Economia

Venda de casas deverá abrandar em 2019 por causa do menor poder de compra dos portugueses

Venda de casas deverá abrandar em 2019 por causa do menor poder de compra dos portugueses
Nuno Botelho

Apesar de a procura continuar forte, há falta de oferta a preços que os portugueses consigam pagar, pelo que a imobiliária Century 21 prevê um arrefecimento no volume de transações em 2019

Este ano, a venda de casas a nível nacional deverá abrandar devido à diminuição do poder de compra dos portugueses, apesar de estes manterem um forte interesse na aquisição de casa própria, adverte Century 21. A rede imobiliária fechou 2018 com um aumento de vendas de 17%, equivalendo a 12,5 mil casas transacionadas (num valor total de 896,6 milhões de euros), mas já sentindo "uma evidente falta de oferta" a preços a que as famílias portuguesas consigam pagar.

"Verifica-se uma forte procura, quer nacional quer internacional, e os indicadores sustentam que irá continuar elevada ao longo de 2019. Porém, o decréscimo do poder de compra dos portugueses será um dos fatores de condicionamento da evolução do mercado", adianta Ricardo Sousa, CEO da Century Portugal.

O preço médio para venda na atual oferta de habitação supera em 24,9% o que os portugueses estão disponíveis para pagar, segundo apurou a Century 21. A nível nacional, o que os portugueses mais procuram é um apartamento em segunda mão e sem precisar de obras, com três quartos e duas casas de banho, arrecadação e garagem, podendo estar localizado em zonas periféricas das cidades, mas servidas de transportes e supermercados nas proximidades - e o preço que estão dispostos a pagar ronda 138,6 mil euros, numa compra financiada por crédito à habitação que fique abaixo dos 500 euros mensais.

No que toca ao financiamento da casa, a rede imobiliária avança que 35,3% dos portugueses têm de recorrer integralmente ao empréstimo bancário. A taxa de esforço da hipoteca representa, para um terço das famílias, 20% a 30% dos seus vencimentos (e para 11% excede mesmo os 30%).

"Há uma procura real, que não é especulativa, mas a evolução dos preços nos centros das cidades está a pôr fora do mercado os portugueses, que não os conseguem acompanhar", adverte o responsável da Century 21, sustentando que "os principais atores do sector imobiliário têm de criar soluções em linha com as expectativas e a capacidade financeira das famílias portuguesas".

Relativamente à nova construção de habitação que está em 'pipeline' e que já se perfila mais adequada às necessidades dos portugueses, Ricardo Sousa ressalva que esta vai demorar algum tempo a chegar ao mercado, pelo que, "olhando os próximos dois anos, e por não haver oferta suficiente para o poder de compra dos portugueses, o número de transações vai abrandar".

Para o CEO da Century 21, "2018 foi um ano marcado por alguns excessos", pelo que aconselha os proprietários a terem "bom senso e a serem flexíveis nos preços que pedem para venda das casas, pois muitos vão para o mercado com expectativas altas e uma ideia de valor que não é realista".

A atividade da Century 21 em 2018 evidenciou "uma forte quebra, de 62%" nas operações de arrendamento - e também aqui devido "à evidente falta de oferta de imóveis ajustada ao poder de compra dos portugueses". A nível nacional, o valor médio do arrendamento na rede imobiliária atingiu 812 euros mensais, numa "forte subida de 37,5%" face aos valores do ano anterior. Segundo a Century 21, "este indicador revela que foram os consumidores do segmento médio e médio alto que conseguiram aceder às soluções de arrendamento que estão em oferta no mercado".

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