Economia

OCDE pediu a Álvaro Santos Pereira para não estar presente na apresentação do estudo sobre Portugal

O secretário-geral da OCDE, Angel Gurria
O secretário-geral da OCDE, Angel Gurria
MIGUEL A. LOPES / LUSA

Ex-ministro da Economia lidera o departamento de estudos sobre países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, que preparou o relatório apresentado esta segunda-feira. Mas, após polémica com o Governo português, por causa da análise sobre a corrupção, Angel Gurria, secretário-geral da organização, pediu-lhe para não participar do evento

Foi uma ausência muito notada. Álvaro Santos Pereira, antigo ministro da Economia do Governo de Pedro Passos Coelho e atual diretor do departamento de estudos sobre países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) não esteve presente no evento de apresentação do Economic Survey a Portugal, que se realizou esta segunda-feira no Ministério da Economia, em Lisboa.

Isto apesar de coordenar a equipa responsável pela preparação do relatório. A apresentação esteve, assim, a cargo de Ángel Gurría, secretário-geral da OCDE, numa cerimónia que contou com a presença de Pedro Siza Vieira, ministro Adjunto e da Economia, e Ricardo Mourinho Félix, secretário de Estado Adjunto e das Finanças.

Questionado pelos jornalistas sobre a ausência de Álvaro Santos Pereira, Ángel Gurría revelou que pediu ao diretor da OCDE para não estar presente. Tudo por causa da polémica com o Governo português a propósito da análise sobre a corrupção, incluída no relatório por inciativa da equipa liderada pelo ex-ministro da Economia.

"A minha decisão de sugerir a Álvaro Santos Pereira não participar aconteceu na sequência da fuga de informação sobre a versão preliminar" do Economic Survey a Portugal, afirmou Ángel Gurría. E justificou: "Queria que esta reunião fosse sobre Portugal e o relatório e não sobre Álvaro Santos Pereira".

O secretário-geral da OCDE adiantou ainda que "foi muito fácil", já que "ele é profissional". E referiu-se à referida fuga de informação como um "desafortunado caso".

Numa sessão onde as perguntas dos jornalistas foram cortadas e ficaram limitadas a duas intervenções de canais televisivos, Ángél Gurría lembrou ainda que Álvaro Santos Pereira "coordenou os trabalhos do relatório, como acontece com todos os países".

Recorde-se que o Expresso já tinha avançado na semana passada que o ex-ministro da Economia não ia estar presente no evento desta segunda-feira. Além disso, foi cancelado o evento previsto para esta terça-feira, em parceria entre a OCDE e a Ordem dos Economistas, em que Álvaro Santos Pereira iria tomar o palco e apresentar o documento. Um cancelamento que a OCDE justificou com não serem necessários dois eventos sobre a mesma publicação.

Governo "satisfeito" com análise

Depois do braço-de-ferro, "satisfação". Foi esta a palavra usada por Ricardo Mourinho Félix e Pedro Siza Vieira a propósito da análise efetuada pela OCDE à economia portuguesa.

"Não posso deixar de manifestar a satisfação pelo reconhecimento da OCDE em relação ao trabalho que o Governo tem realizado", destacou Mourinho Félix. "É com satisfação que acolhemos o relatório deste ano", apontou, por sua vez, Siza Vieira.

O ministro da Economia afirmou ainda que o Governo "revê-se" em muitas das recomendações sugeridas pela OCDE, na sequência da análise que a organização faz a alguns problemas que afetam o país.

Contudo, questionado pelos jornalistas sobre a proposta da organização em relação ao aumento de impostos, ao nível do IVA e da tributação ambiental, frisou que "é um relatório da OCDE" sendo a organização "responsável" pelas recomendações e sugestões aí inscritas.

"No passado, já houve sugestões, nomeadamente ao nível do mercado laboral, que não foram seguidas", lembrou o ministro da Economia. E reforçou: "A OCDE sugere um conjunto de propostas, mas que o Governo não tem necessariamente de seguir".

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