Economia

Eólica offshore: a próxima fronteira é cortar custos

A Iberdrola inaugurou esta semana o parque de Wikinger, no mar Báltico. Tem 70 torres e custou €1,4 mil milhões
A Iberdrola inaugurou esta semana o parque de Wikinger, no mar Báltico. Tem 70 torres e custou €1,4 mil milhões
foto miguel prado

Em terra, a energia eólica já tem preços competitivos. Mas no mar os custos são ainda elevados. Será possível ter eólica offshore sem subsídios?

Eólica offshore: a próxima fronteira é cortar custos

Miguel Prado

Editor de Economia

Hoje em dia metade do investimento de um parque eólico offshore vem do preço das turbinas. A outra metade assenta no custo das pás, das torres e da sua instalação no mar. Para o espanhol Estanislao Rey Baltar, que dirigiu o projeto Wikinger, que a Iberdrola acaba de inaugurar em águas alemãs, o futuro das eólicas offshore depende de um par de pontos críticos. “As máquinas têm que ser maiores”, avança o gestor. “E o tempo de instalação também pode reduzir-se. Há possibilidades de melhoria dos custos de construção”, acrescenta.

A otimização de custos será crucial, pois permitirá que novos projetos sejam viabilizados sem tarifas subsidiadas, ou seja, sem penalizar os consumidores de eletricidade. Reduzir o tempo de instalação será importante, pois, à semelhança da indústria petrolífera, cada dia de aluguer de embarcações para transportar equipamento e pessoal encarece o projeto. E o reforço da potência dos aerogeradores é essencial. Um parque eólico de 100 megawatts (MW) que use turbinas de 2 MW precisa de 50 torres e 150 pás. Mas se o mesmo parque usar turbinas de 5 MW precisará apenas de 20 torres e 60 pás.

O parque que a EDP irá construir ao largo de Viana do Castelo recorrerá a aerogeradores de 8 MW, evidenciando a procura de economias de escala. O projeto beneficiará de uma tarifa superior a €140 por megawatt hora (MWh), que é mais do dobro do atual preço grossista do Mercado Ibérico de Eletricidade (Mibel). O parque de Wikinger, que a Iberdrola já opera no mar Báltico, assegurou uma tarifa de €194 por MWh.

Estes níveis de remuneração contrastam com os preços do mercado grossista, mas também com as tarifas negociadas para novos parques eólicos em terra. Em setembro, a EDP assegurou num leilão no Brasil um contrato para, durante 20 anos (a partir de 2024), vender a energia de um novo parque eólico e a tarifa acordada foi de apenas 87 reais por MWh, pouco mais de €20 por MWh.

Mas a era da forte subsidia­ção dos projetos eólicos offshore está a chegar ao fim. A própria Iberdrola ofereceu recentemente num leilão na Alemanha um preço de venda de €65 por MWh, que viabilizará o futuro parque offshore Baltic Eagle. Um preço em linha com o que há 12 anos o consórcio Eneop, liderado pela EDP, ofereceu para poder instalar em solo português 1200 MW de potência eólica.

O Expresso questionou a EDP Renováveis sobre o que será fundamental para as eólicas offshore vingarem. Fonte da empresa respondeu que os parques no mar “têm a necessidade de ser construídos à escala, com o objetivo de aumentar eficiência, baixar os custos e serem cada vez mais competitivos”. A EDP realça que o projeto Windfloat Atlantic, a instalar até final de 2019, assente em plataformas flutuantes, “será uma grande oportunidade para ajustar os custos deste tipo de tecnologia”.

Do lado da associação europeia de energia eólica, a Wind Europe, há a convicção de que o preço dos projetos no mar vai cair. Joël Meggellaars, que lidera a equipa de lóbi da Wind Europe, sublinha que “com uma correta visibilidade em termos de volumes e industrialização, os custos dos equipamentos flutuantes poderão baixar ainda mais rápido que os da eólica fixa ao fundo do mar, recuando dos atuais €180 a €200 por MWh para €40 a €60 por MWh em 2030”.

Joël Meggellaars assegura ainda que “investir hoje na eólica offshore não custa mais que a geração convencional”. Vários leilões de eólica no mar já tiveram preços abaixo dos praticados em mercado pelas centrais a carvão e a gás. Mas há também diversas empresas a construir grandes centrais solares com preços ainda mais competitivos. O mix energético europeu dependerá também do espaço físico para novos projetos. E o mar oferece oportunidades mais vastas que as existentes em terra para novos parques fotovoltaicos.

De acordo com a Wind Europe, 80% do potencial eólico offshore da Europa está em águas com profundidades acima de 60 metros, pelo que a tecnologia flutuante será fulcral. Joël Meggellaars realça que “o sector está a evoluir rapidamente”, notando que “as turbinas estão a aumentar, os métodos de instalação evoluem, a cadeia de fornecedores está a crescer e as políticas governamentais de redução de riscos ajudaram a reduzir o custo de capital”. Uma corrente que alimenta perspetivas de um futuro promissor para as eólicas offshore. Desde que a fronteira da redução de custos seja efetivamente alcançada.

O Expresso viajou à Alemanha a convite da Iberdrola

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