Economia

Há uma rua em Londres calcetada com desperdícios de mármore português

A inauguração desta obra, da autoria do designer de origem cipriota Michael Anastassiades, está marcada para quarta-feira
A inauguração desta obra, da autoria do designer de origem cipriota Michael Anastassiades, está marcada para quarta-feira
d.r.

Mint Street não é uma rua qualquer. O chão é feito de desperdício de mármore e o objetivo é dar nas vistas para que se saiba de onde veio a pedra

Há uma rua em Londres calcetada com desperdícios de mármore português

Vítor Andrade

Coordenador de Economia

Estas pedras já estavam no lixo e agora estão no meio da rua.

Um amontoado de excedente rejeitado de mármore, numa pedreira alentejana, foi o ponto de partida para uma intervenção urbana do designer de origem cipriota Michael Anastassiades, na Mint Street, em Londres. A inauguração desta intervenção no espaço público está marcada para quarta-feira, 31 de outubro.

Em termos muito simples estamos a falar de um pedaço de chão de uma rua londrina, que vai passar a ser pisado pelos frequentadores daquele espaço pedonal. Mas, para Guta Moura Guedes, da Experimenta Design, o que está em causa é muito mais que isso.

“A ideia que está na base desta e de outras intervenções que já foram feitas noutros países é acrescentar valor à pedra portuguesa, criar notoriedade e, no final do dia, despertar a atenção dos agentes económicos, lá fora, de forma a que surjam mais encomendas para os industriais do sector da pedra em Portugal”.

A presidente da Experimenta Design, que foi desafiada pelos industriais do sector (Assimagra — Associação dos Recursos Minerais de Portugal) a adicionar valor — sobretudo arquitetura e design — às pedras portuguesas para impressionar a opinião pública e potenciais clientes no estrangeiro, diz que o retorno já está a acontecer. “As exportações de mármore ruivina preto, por exemplo, dispararam 75% desde 2016”.

Não é a forma mais vulgar de trabalhar o mármore, mas também por isso o sector espera gerar impacto fora de portas

‘PRIMEIRA PEDRA’ JUNTA O DESIGN À INDÚSTRIA EXTRATIVA

Foi precisamente há dois anos que teve início uma colaboração improvável entre a Assimagra e a Experimenta Design, batizada ‘Primeira Pedra’. O programa, segundo os seus promotores, concilia indústria e design através do desenvolvimento de novas aplicações da pedra portuguesa, “sensibilizando para as suas especificidades e para a indústria que lhe está associada, num cluster que reúne mais de 1500 empresas, extrativas e transformadoras”.

Há, aliás, uma pergunta que se impõe: porque é que um sector que fatura mais de mil milhões de euros por ano sente necessidade de juntar ainda mais design às pedras que já vende em grande quantidade?

“Porque ainda há espaço para crescer mas, com uma particularidade — agora temos grandes nomes do design e da arquitetura a trabalhar connosco e, naturalmente, isso dá ainda mais credibilidade e notoriedade ao nosso sector”, sublinha Miguel Goulão, presidente da Assimagra.

Na verdade, são mais de 20 nomes sonantes da arquitetura e do design, como os portugueses Souto de Moura, Siza Vieira ou Carrilho da Graça, mas também vários estrangeiros como Amanda Levete (Inglaterra), Bijoy Jain (Índia) ou Cláudia Moreira Salles (Brasil).

O presidente da Assimagra nota que não só as peças criadas geram, por si só impacto, nos vários países onde foram colocadas, como têm a particularidade de todas terem sido executadas em Portugal, com tecnologia portuguesa.

“A nossa indústria acabou por desenvolver tecnologia adequada ao trabalho da pedra que hoje é a mais avançada do mundo neste domínio. Isso é duplamente positivo porque, além da exportação da pedra estamos também a exportar tecnologia”, frisa aquele responsável.

O sector, que apesar de ter perdido 1100 empresas desde 2008 está a faturar mais que nunca, emprega diretamente 16 mil pessoas em Portugal.

O próximo passo da Assimagra vai ser a associação da pedra ao mundo da moda. Ou seja, ainda há muita pedra para partir.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: VAndrade@expresso.impresa.pt

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