Empresas ‘inteligentes’ são mais competitivas

Tendência: Na era do conhecimento quem retirar o máximo potencial dos dados de negócio estará na linha da frente
Tendência: Na era do conhecimento quem retirar o máximo potencial dos dados de negócio estará na linha da frente
Fátima ferrão
A multiplicidade de dispositivos móveis usados diariamente a nível global, o número de operações que os utilizadores realizam através destes equipamentos ou a pegada digital que deixam na internet e nas redes sociais, produz gigantescas quantidades de dados que, por si só, têm pouco valor. O grande desafio para os próximos anos será retirar valor destes dados, e transformá-los em informação válida e conhecimento.
No entanto, e segundo o estudo realizado pelo Expresso e pela GfK junto do universo das 1000 Maiores PME, as empresas nacionais não parecem estar ainda preparadas para enfrentar este desafio. Dos gestores inquiridos, 41% reconhecem a importância da big data como fator crítico de sucesso, garantindo que recolhe e trata dados, e que os utiliza como suporte de gestão do negócio. Os mesmos responsáveis, porém, garantem que retiram todo o potencial destes dados o que, para Manuel Maria Correia, diretor-geral da DXC Technology Portugal, empresa que presta serviços na área da Transformação Digital a organizações de vários setores, está longe de ser uma realidade. “As empresas em Portugal incorporam em média, para efeitos de suporte de gestão, apenas 10% da informação disponível nos seus sistemas”, explica. “Falamos da informação estruturada, que reside nas base de dados tradicionais. As novas fontes de informação, dita não-estruturada (documentos de texto, e-mail, chats e redes sociais, imagens, vídeo, entre outros), não é integrada nem é explorado o seu potencial”, refere.
Há, por isso, um grande trabalho a fazer junto do tecido empresarial português. Para Manuel Maria Correia, a utilização de dados mais abrangente, que vá além dos de negócio e que incorpore novos tipos como áudio, vídeo e redes sociais, é crítica para a decisão das operações de negócio. “Definir uma estratégia apenas com base naquilo que funcionou no passado, é uma receita para o desastre. E hoje, mais do que qualquer outro ativo, os dados permitem-nos perceber o que está a acontecer agora e o que vai acontecer amanhã”.
Fundamental na gestão diária
Ainda assim, as empresas nacionais demonstram estar hoje mais conscientes da importância dos dados. “Tornou-se fundamental na gestão diária, permite uma tomada de decisão mais fundamentada e eficiente que, em termos acumulados, faz toda a diferença nos números finais do ano”, garante João Pinto Coelho, diretor comercial do grupo hoteleiro Onyria. “Esta é uma das áreas em que temos apostado mais nos últimos tempos, e que se tem revelado extremamente útil no apoio à tomada de decisão e na forma como desenvolvemos o nosso trabalho no terreno”, acrescenta Conceição Martins, diretora de recursos humanos, IT e comunicação da farmacêutica Angelini Portugal.
E os resultados são óbvios. “É uma oportunidade de conhecermos o nosso negócio de forma mais pormenorizada e, de um modo mais eficaz, conduzi-lo no sentido de garantirmos resultados mais positivos”, revela a responsável da Angelini. Já para João Pinto Coelho, “é fundamental para nos mantermos na vanguarda, num sector com elevado nível de exigência por parte dos clientes, e com grande concorrência nacional e internacional”.
Falta confiança na cloud
Apesar de reconhecerem a importância de uma melhor gestão dos dados e de percecionarem que uma estratégia bem delineada lhes abre portas para um maior potencial de inovação, competitividade e produtividade, muitas empresas nacionais ainda duvidam da segurança das plataformas de armazenamento na cloud, revelando alguma dificuldade em confiar os seus dados a terceiros. De entre os inquiridos pelo Expresso e pela GfK, apenas 26% garantem ter absoluta confiança nestas plataformas. Dos restantes, 47% dizem confiar pouco na segurança destes serviços, enquanto 26% afirmam não estar informados sobre o tema ou não saber responder.
Respostas em linha com as prioridades de investimento em tecnologia que o mesmo grupo de empresas revela ter para 2018. A aposta em serviços de computação na nuvem é referida por apenas 6% dos inquiridos, sendo a segurança e privacidade dos dados a área que reúne maior consenso, com 39% dos empresários a revelar esta prioridade. A aquisição de ferramentas de analítica para interpretar os dados é também, para 25%, um investimento importante para fazer ainda este ano, e o backup de dados preocupa outros 18%. Onze por cento dos gestores não sabem ou não respondem a esta questão.
1. Como democratizar o acesso
à informação dentro
das organizações?
Disponibilizando ferramentas de self-service que, em conjunto com modelos de dados centralizados, capacitem unidades de negócio para analisarem dados, explorarem informação e incluírem
os resultados nos processos
de tomada de decisão.
2. Como gerar valor dos dados a que as organizações têm acesso?
Existem diversas fontes
de dados nas organizações: sistemas LOB internos, aplicações customer-facing, fontes de dados externas, dispositivos e sensores, etc.
A inclusão dessas várias fontes nos processos de recolha, tratamento e análise de dados
é uma vantagem competitiva muito relevante. Também
a forma como são tratados
e processados esses dados, aliada às tecnologias
de analítica avançada, permite às organizações gerar insights relevantes.
3. Pode uma cultura orientada para
os dados ter impacto
nos modelos de negócio
e no desenho de produtos e serviços?
Desde a análise dos padrões
de compra dos clientes
até à capacidade de recolher insights em tempo real
da utilização de determinados produtos ou serviços, existem diversas formas de incorporar a análise destes dados
nos processos de desenho
e produção de produtos
e serviços. Adicionalmente,
há diversas organizações
a analisar conjuntos de dados que conseguem recolher junto de empresas de outras indústrias.
4. Podem
as organizações melhorar
ou transformar
a experiência e o dia
a dia dos clientes?
Os dados a que as organizações têm acesso
sobre os seus clientes,
preferências, comportamentos, gostos,
etc., possibilitam uma maior personalização de todas
as interações com o seu público-alvo assim como
a recomendação dos produtos mais adequados no momento certo.
5. Que impacto
e que preocupações devemos ter em áreas como a segurança
da informação
e a privacidade?
A abertura do acesso a dados sensíveis da organização
a grupos alargados
de utilizadores gera preocupações. A importância do governance de quem acede a que informação, em que formatos e com que ferramentas ganha maior importância, assim como
a necessidade de garantir
o controlo e auditoria sobre acessos e operações sobre
os mesmos. Funcionalidades de encriptação e masking de dados são hoje fundamentais do ponto de vista tecnológico.
31%
das empresas inquiridas
no estudo do Expresso
e da GfK analisam
e medem os seus dados
de negócio em tempo
real ou no fecho de cada dia
90%
será a percentagem
de plataformas de business intelligence que, em 2020,
terá a inteligência artificial
como uma característica
standard, revela
a consultora Gartner
“Ativar o Futuro”, projeto conjunto do Expresso e da Microsoft, volta daqui a dez dias ao edifício Impresa para mais uma mesa-redonda, desta vez para debater a importância da gestão e da performance nas empresas, depois de já terem sido analisados temas como a cibersegurança, a mobilidade e, agora, a inteligência de dados. Em maio discutiremos as tendências relacionadas com o consumidor e em junho estaremos focados na captação de talentos. Para saber mais sobre “Ativar o Futuro” reveja todos os debates no nosso site.
Textos originalmente publicados no Expresso de 7 de abril de 2018
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt