Economia

Sucesso empresarial de mãos dadas com a exportação

Pedro Carreira (Continental Mabor), Paulo Macedo (CGD), Pedro Rocha e Melo (Brisa) e Guy Villax (Hovione) discutiram, sob a moderação de Ricardo Costa, os desafios das empresas para 2018
Pedro Carreira (Continental Mabor), Paulo Macedo (CGD), Pedro Rocha e Melo (Brisa) e Guy Villax (Hovione) discutiram, sob a moderação de Ricardo Costa, os desafios das empresas para 2018
Marcos Borga

Empresas exportadoras competem em mercados alargados, o que as ajuda no mercado interno. Mas a chave está nos valores, pessoas e estratégia a curto, médio e longo prazo

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Cada vez mais as exportações estão associadas a sucesso empresarial. Quem o afirma é Paulo Macedo, que embora reconheça que “há ótimas empresas que não exportam”, acredita existir uma correlação entre sucesso e vendas para o mercado externo. “Uma empresa exportadora compete num mercado mais alargado, o que a torna mais eficiente, melhor gerida e mais inovadora. Consequentemente, tem um melhor posicionamento no mercado interno”, realçou o presidente-executivo da Caixa Geral de Depósitos (CGD), durante o 10º Encontro Fora da Caixa, organizado esta semana pela CGD com o apoio do Expresso — e que teve como oradores alguns dos vencedores dos prémios 500 Maiores & Melhores e 1000 Melhores PME, da “Exame”.

O maior problema das empresas é de governo, acredita Manuel Ferreira de Oliveira, gestor e ex-presidente-executivo da Galp. É por isso que defende a figura do “contraditório construtivo”: alguém independente, que não precise do posto de trabalho, que desafie constantemente o dono. “Mas não é fácil encontrar pessoas com esse perfil.” Este seria um contributo essencial para a eficácia, que passa pela “difícil tarefa de os gestores permanentemente pensarem a curto, médio e longo prazo”, em organizações orientadas por valores e que invistam em capital humano e na sua valorização.

A inovação é outra peça essencial para o sucesso deste puzzle. E inovar não é necessariamente criar uma tecnologia diferente, defende o administrador-executivo da Brisa Autoestradas de Portugal. “Veja o caso da Via Verde: é uma tecnologia básica, que já era utilizada em todo o lado”, recordou Pedro Rocha e Melo: “O segredo é a integração dos sistemas.” Do pagamento de portagens saltaram para o estacionamento e para outros serviços como o DriveNow (aluguer de carros partilhado) e a app Boleias. “É parecida com o BlaBlaCar, onde quem tem carro oferece boleias a outros para partilharem os custos, mas introduzimos a possibilidade de isso ser feito em grupos fechados.”

Ter uma visão de longo prazo, dar confiança e poder aos trabalhadores e não ter medo de criar parcerias são condições essenciais à inovação, acrescentou Rocha e Melo. O impacto que as empresas têm na economia passa também pelo falhanço. “Temos uma cultura de perceber que o fracasso faz parte do negócio, proteger as pessoas nesses processos e trazê-las novamente aos projetos.”

À prova de bala
A resiliência das empresas portuguesas durante a crise iniciada em 2008 foi destacada por Emílio Rui Vilar, presidente do conselho de administração da CGD: “Quando o investimento público contrai e a poupança das famílias é muito reduzida, são as empresas que asseguram 75% do investimento do país.”

Embora no segundo trimestre de 2017 a confiança dos empresários tenha levado ao aumento do interesse no crédito ao investimento, segundo apontou o administrador-executivo da CGD, Francisco Cary, as três empresas do painel “Os Desafios das Melhores PME” praticamente não recorrem a financiamento bancário para realizar os investimentos. São elas a PortSines, concessionária do terminal multiusos de Sines, a Pegop, que faz a operação, manutenção e engenharia das centrais do Pego, e a Visão do Tempo II, que representa a Pandora em Portugal.

Todas destacaram os principais desafios que as melhores pequenas e médias empresas enfrentam, entre eles problemas relacionados com a mão de obra. As greves (nomeadamente nos portos portugueses), a dificuldade de fixar pessoas e serviços no interior do país (como no caso da Pegop, localizada no concelho de Abrantes) e os obstáculos no recrutamento de pessoas para trabalhar nos centros comerciais foram alguns dos desafios apontados. “Há um grande esforço das autoridades locais para fixar serviços no interior do país, mas há uma migração dos serviços para o litoral”, explicou José Grácio, administrador da Pegop. “A recuperação da economia não está a ser acompanhada pela inversão deste fluxo de pessoas.”

Frederico Carneiro, administrador da Visão do Tempo II, sublinhou que, no caso da Pandora, a crise constituiu uma oportunidade. “Abrimos a primeira loja no Vasco da Gama em 2008”, contou. “Com o agudizar da crise, os centros comerciais foram perdendo lojistas e nós ocupámos os espaços comerciais em condições que cinco anos antes não seriam possíveis.”

“Os Desafios das Melhores PME” foram debatidos num painel, moderado por João Vieira Pereira, que incluía a Visão do Tempo II, a Pegop, a Caixa Geral de Depósitos e a PortSines
Marcos Borga

Qualidade de universidades impulsiona empresas

“Continuamos a investir em Portugal, porque o produto que sai das universidades é muito bom”, aponta Guy Villax, presidente-executivo da farmacêutica Hovione. A qualidade da educação portuguesa foi um mantra repetido ao longo do encontro. “Os sucessos ao nível da formação são muitos”, diz António Cruz Serra, reitor da Universidade de Lisboa (ULisboa), referindo que há 40 anos os alunos nem chegavam a 40 mil e hoje são mais de 300 mil. Mas alerta que o financiamento às universidades portuguesas está muito distante do de outros países — como a Suíça, que é oito vezes superior. “A dotação do Orçamento do Estado só paga 2/3 dos alunos. A ULisboa tem uma dotação generosa de 200 milhões de euros anuais, mas só os salários dos professores são 250 milhões.” Isto obrigou a cortar custos, reduzir pessoal e a procurar formas alternativas de financiamento. “Temos de convencer as empresas que é um bom investimento fazer filantropia em relação às universidades.”

DISCURSO DIRETO

“Uma empresa exportadora compete num mercado mais alargado, o que 
a torna mais eficiente, mais 
bem gerida e mais inovadora”
Paulo Macedo
Presidente-executivo da 
Caixa Geral de Depósitos

“Estou no sector portuário há 35 anos. E há 35 anos que oiço: ‘Pode ser que seja no próximo ano que vamos resolver o problema das greves’”
Ramalho do Nascimento
Administrador delegado da PortSines

“Há um grande esforço das autoridades locais para fixar serviços no interior do país, mas há uma migração 
dos serviços 
para o litoral”
José Grácio
Administrador da Pegop

“É cada vez mais difícil recrutar pessoas para trabalhar nos centros comerciais. Não só pela questão da qualidade, mas porque a quantidade de candidatos 
que aparecem 
nos processos 
de recrutamento 
é reduzida”
Frederico Carneiro
Administrador da Visão do Tempo II

“Na altura da crise, 
a única coisa 
frágil que a Hovione tinha eram os bancos. Não havia nenhum banco 
que fizesse crédito a cinco anos e tivemos de encontrar alternativas”
Guy Villax
Presidente-executivo da Hovione

“Temos uma cultura de perceber que o fracasso faz parte do negócio, proteger as pessoas nesses processos e trazê-las novamente 
aos projetos”
Pedro Rocha e Melo
Administrador-executivo da Brisa Autoestradas de Portugal

“No que diz respeito aos impostos, Portugal é muito pouco competitivo quando comparado com outros países”
Pedro Carreira
Presidente do conselho de administração da Continental Mabor

Textos originalmente publicados no Expresso de 23 de dezembro de 2017

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