Bitcoin passou o teste dos futuros
É o fenómeno financeiro do ano. Nesta primeira semana de negociação nos mercados de futuros não colapsou. Cavalgada vai arrefecer
É o fenómeno financeiro do ano. Nesta primeira semana de negociação nos mercados de futuros não colapsou. Cavalgada vai arrefecer
Jornalista
A mais mediática moeda criptográfica do mundo passou esta semana o teste do mercado de futuros desde que os primeiros contratos se estrearam na Chicago Board Options Exchange (CBOE) ao final da tarde de domingo (hora local). O prognóstico de que poderia haver um colapso da bitcoin era manifestamente exagerado. Esta moeda transformou-se no fenómeno financeiro do ano — o seu preço disparou 1800% em dólares e 1600% em euros (ver gráfico).
“Havia muito medo sobre como o mercado de futuros da CBOE Bitcoin poderia fazer colapsar o valor da bitcoin. No entanto, no primeiro dia de negociação de futuros, vimos o valor da bitcoin mostrar força e resiliência”, afirmou ao Expresso Sam Wolkering, um especialista australiano, autor do best-seller “Crypto Revolution”, avaliando as primeiras 24 horas de negociação.
No entanto, a primeira semana de negociação de futuros revelou que a cavalgada recente do preço da bitcoin no mercado cambial — com um aumento de 73% em dólares e de 62% em euros só nos últimos quinze dias — não se projeta, por ora, para o primeiro trimestre de 2018.
À hora de fecho deste caderno, os futuros na CBOE estão abaixo de 18 mil dólares para janeiro e fevereiro e pouco acima daquele patamar para março do próximo ano (ver gráfico). O preço do bitcoin em dólares estava na abertura de sexta-feira um pouco acima de 17 mil dólares (e de €14.500). “O diferencial entre os preços dos futuros e a bitcoin no mercado à vista começou nos 13% e depois estreitou bastante”, refere André Ribeiro, consultor independente de estratégia radicado em Manchester, no Reino Unido. Contudo, acha que a evolução efetiva do preço “é imprevisível”.
Por ora é seguro dizer-se que esta primeira semana “revelou que a bitcoin pode acalmar a inclinação da subida dos preços e dos ganhos na melhor das hipóteses, ou poderá estabilizar em baixa”, sublinha Tiago Marques Pereira, analista do banco BIG. Contudo, é preciso cautela, recomenda este especialista: “Com um histórico tão curto é difícil tirar grandes conclusões.”
Houve, no entanto, um outro efeito que Tiago Marques Pereira sublinha tem a ver com o facto de as ações de muitas empresas envolvidas com a criptografia terem subido e as outras moedas encriptadas terem visto o preço disparar face a uma subida mais modesta no caso da bitcoin. Segundo dados da Coinmarketcap, o preço da bitcoin subiu 5,3% em sete dias, enquanto o da ripple disparou 220%, o da litecoin avançou 176% e o da ethereum aumentou 52%, para referir as três outras moedas no clube das cinco com mais elevadas capitalizações de mercado. Registaram-se, inclusive, momentos em que o preço da bitcoin descia e o destas moedas disparava.
Um aspeto fundamental parece confirmar-se. “A entrada no mercado de futuros da bitcoin aumentou a notoriedade do tema à escala mundial. A existência destes contratos e de outros que vão ser lançados já no domingo (pela CME, também em Chicago) ou que podem ser lançados em breve (como na bolsa alemã) credibilizam a moeda e facilitam o acesso ao mercado”, conclui Filipe Garcia, presidente da consultora Informação de Mercados Financeiros.
O tema chegou esta semana à catedral dos bancos centrais. Na sua última conferência de imprensa como presidente da Reserva Federal norte-americana, Janet Yellen enfrentou três perguntas sobre a bitcoin. Disse que era “um ativo altamente especulativo”, mas considerou que eram limitados os riscos para a estabilidade financeira. Em contraste, Mario Draghi, o chefe do Banco Central Europeu, não foi interrogado sobre o tema.
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