Tudo corria sobre rodas quando a 5 de dezembro de 2013 os CTT se estreavam na Bolsa de Lisboa: as ações entravam à cotação de €5,52 e dispararam de imediato com a promessa de bons dividendos. Até meados de 2015 foi sempre a somar, os títulos chegaram a valer €10,64.
Quatro anos depois desde aquele dezembro de 2013, a realidade é toda outra e os Correios valem agora menos de metade do que valiam quando foi concluída a privatização a 100%. E a meio da sessão desta terça-feira as ações cotavam-se a €3,13, com uma desvalorização superior a 2%, e uma perda de 45,67% face ao início. Francisco Lacerda, o gestor que liderou a privatização dos CTT, pressionado pela quebra dos resultados e aumento dos custos, tem uma dura batalha para enfrentar.
Mais custos menos receitas
Não há grandes razões para festejar os quatro anos da estreia em bolsa dos CTT: as ações têm estado em quebra desde a apresentação dos resultados do terceiro trimestre, revistos em baixa pela própria empresa. O tráfego do Correio caiu 6,1% nos primeiros nove meses de 2017 face ao período homólogo, um ritmo mais acelerado que o previsto. As receitas deslizaram 1,1% para €398 milhões.
O futuro augura-se difícil, já que o principal negócio está sob ameaça - a concorrência não pára de crescer no segmento expresso e encomendas e as pessoas, as empresas e o próprio Estado usam cada vez mais os meios eletrónicos para comunicar, abdicando do tradicional correio. Desconhece-se qual a quota de mercado que os CTT detêm no segmento do expresso e encomendas, mas andará à volta dos 20% a 30%, bem abaixo da sua quota natural.
A pesar negativamente sobre as contas está ainda espanhola Tourline, em reestruturação há alguns anos e com dificuldade no equilíbrio da operação.
Equilíbrio do Banco Postal adiado
As ameaças não ficam por aqui: há uma grande pressão sobre os custos do CTT por causa do banco postal, para onde foram contratadas mais de 200 pessoas, com remunerações superiores às praticadas nos Correios. O arranque do Banco CTT numa altura em que o investimento na banca estava longe dos tempos áureos tem sido considerado por vários analistas uma opção de gestão arriscada. A concentração de esforços na criação de um banco, desviando as atenções na diversificação do negócio core, poderá não ter sido o melhor caminho.
Francisco Lacerda já se viu obrigado a adiar a previsão para o atingir do ponto de equilíbrio (break even point) de 2018 para 2019. Além da concorrência ser grande, os CTT perderam há cerca de um ano o exclusivo da venda dos certificados de aforro, de longe o seu produto mais popular.
Os CTT estão a deixar de ser uma das estrelas da Bolsa de Lisboa. E, segundo o “Jornal de Negócios”, nem os generosos dividendos de €1,815 distribuídos nos últimos anos livram os investidores de potenciais menos-valias. Para ajudar a melhorar os resultados, os CTT vão avançar com um plano de reestruturação com a redução de cerca de 300 trabalhadores.
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