
Lágrimas nos olhos e 22 minutos de aplausos para um filme tunisino a falar de um crime de guerra: “The Voice of Hind Rajab”, que usa a voz de uma criança palestiniana em fuga com a família, entretanto morta pelo exército de Israel
Lágrimas nos olhos e 22 minutos de aplausos para um filme tunisino a falar de um crime de guerra: “The Voice of Hind Rajab”, que usa a voz de uma criança palestiniana em fuga com a família, entretanto morta pelo exército de Israel
Em Veneza
Depois de, no domingo, um mar de gente e uma legião de bandeiras palestinianas ter feito parar os transportes coletivos no Lido e chegado às portas do festival em irada manifestação de denúncia dos massacres israelitas em Gaza, um filme tunisino - “The Voice of Hind Rajab”, de Kaouther Ben Hania - veio fazer estremecer a Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica de 2025 como nenhum antes e, certamente, nenhum depois. Centrado num único espaço, a central palestiniana de socorro público do Crescente Vermelho, a única a funcionar, em Ramallah, o filme ocupa-se de um pedido de socorro para Gaza. Alguém na Alemanha comunica que um automóvel com uma família em fuga fora atacado pelo exército israelita e havia uma criança sobrevivente com um telemóvel na mão. A narrativa segue a tentativa de se encontrar um corredor seguro autorizado pelas forças invasoras para que uma ambulância, disponível a poucas ruas de distância, possa acorrer. Mas o essencial é a manutenção da ligação telefónica com a criança, escondida no interior da viatura e cercada de cadáveres sanguinolentos, a pedir insistentemente que a venham buscar. Horas a fio. O dispositivo seria apenas ficcionalmente interessante não fosse o caso de as comunicações telefónicas - desde logo a voz da criança - serem reais, o que empresta ao filme uma dura e potente emoção. Não é uma habilidosa jovem atriz a gravar num estúdio, é a própria voz da verdadeira vítima o que atravessa a sala e nos perfura a alma. A “The Voice of Hind Rajab” um lugar no palmarés de Veneza parece garantido.
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