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Cinema

Festival de Berlim: enquanto Gabriel Mascaro contorna a ordem e o progresso, Jessica Chastain dá a cara pela má consciência americana

Jessica Chastain no novo filme de Michel Franco
Jessica Chastain no novo filme de Michel Franco

Uma mulher de 77 anos tenta escapar de um Brasil distópico em “O Último Azul”. Já “Dreams” é uma parábola da relação de forças entre os Estados Unidos e o México, o país dominante face ao país dominado. Realiza o mexicano Michel Franco


No novo filme de Gabriel Mascaro, cineasta do Recife que realizou “Ventos de Agosto” e “Boi Néon”, estamos num Brasil distópico, numa sociedade que já se tornou, de facto, totalitária, embora o filme, com grande subtileza, não atire à cara do espectador essa informação. Mascaro prefere que a audiência descubra o terreno minado pelo insólito. Na zona amazónica em que o filme decorre, por exemplo, os talhos não abatem gado bovino, mas sim crocodilos. Quanto à população mais velha, é condecorada a partir dos 75 anos de idade pelo seu contributo à nação, com placa e coroa de louros na fachada de casa. Na verdade, os idosos preparam-se para perder todos os direitos da vida ativa. São proibidos de trabalhar e deixam de poder movimentar dinheiro sem autorização de filhos ou netos. O Estado promete recolhê-los numa colónia com todas as mordomias, espaço que o filme nunca mostra mas sugere tratar-se de um requintado campo de concentração. Quase ninguém falou na Berlinale sobre este aspecto do filme de Mascaro mas a aberrante ideia do extermínio da política das reformas (e da estrutura da Segurança Social) para revigorar contas públicas no imediato – “O Último Azul” toca neste assunto indiretamente – continua a ser na América Latina uma equação levantada por governos recentes de extrema-direita.

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