Ela tem 17 anos, vive sozinha com um pai apicultor, joga voleibol num pequeno clube de São Paulo com o sonho de chegar ao escol daquele desporto e, para já, entrevê uma possível janela a abrir-se: uma proposta vantajosa para jogar no Chile, um primeiro pequeno grande passo ascensional. Para já, ela é a estrela da equipa onde joga, uma colmeia feminina multicolor, na etnia e na orientação sexual, com a energia vital da juventude a irrigar esperanças e vontades em todas as direções. Com um campeonato à beira de ser ganho — falta um último e definitivo jogo — e a sua prestação a ser observada antes que a proposta se torne firme, Sofia descobre que está grávida. Aquela criança em extemporânea gestação vai anular-lhe qualquer futuro risonho, ela não a quer ter. Mas, a quem recorrer, como fazer, num Brasil onde a interrupção voluntária da gravidez é crime, num Brasil onde há forças organizadas e poderosas para perseguir e escorraçar publicamente quem a faça ou deseje fazer — ainda por cima, em nome de Deus? E, todavia, logo ali, do outro lado da fronteira, no Uruguai, o aborto é livre e gratuito para as mulheres daquele país...
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