Aitor, Cocó e Lucía são os nomes a que Sofia Otero dá rosto em “20 mil espécies de abelhas”. O filme realizado por Estebaliz Urresola Solaguren permitiu que a atriz de apenas nove anos conquistasse este fim de semana um Urso de Prata como melhor protagonista no festival de cinema de Berlim. É a mais jovem atriz a receber este galardão.
A atriz chorou no palco com o Urso preso na mão de reduzidas dimensões e com as unhas pintadas de vermelho. “Muito obrigada por este lindo prémio”, agradeceu Sofia Otero, dando ainda graças a todos os membros de sua família e à equipe de filmagem pelo troféu. Agradeceu ainda o apoio que recebeu de uma associação de famílias de menores transexuais em Espanha. Para completar: “Quero dedicar a minha vida à atuação”.
No filme, Otero dá vida a uma menina de oito anos, uma criança transgénero, que, como explica o jornal espanhol “El País”, junto com a mãe e os irmãos mais velhos, mudou-se de Bayonne, na França, para uma cidade no País Basco espanhol para visitar a família materna por alguns dias. Neste cenário, a personagem de Sofia Otero sofre sob os olhares dos adultos e da família, que a classificam como Aitor, o seu nome original, de rapaz. Ressente-se também na relação com o novo amigo - "na minha escola conheço outra menina com pénis”, conta ela durante o filme - ou o olhar da sua tia-avó, uma apicultora.
No filme, a personagem diz que é menina, e quer ser tratada como tal. Na sua transformação, ela muda de nome para Lucía. A película coincidiu com a aprovação de uma lei em Espanha que permite a maiores de 16 anos mudarem livremente de género sem a necessidade da apresentação de um parecer médico. O filme, contudo, mostra apenas a fase inicial dessa transformação.
A realizadora explicou em Berlim que Otero, que se estreou no grande ecrã com este filme, foi escolhida após um casting que incluiu mais de 500 raparigas e, na altura, Urresola disse acreditar que “a questão da identidade é um mistério” e que tinha sido importante para ela escolher uma menina para fazer o papel e não um menino. "É mais fácil. Ela é muito inteligente", assegurou.
O Urso de Prata para o melhor protagonista foi atribuído sem distinção de géneros, um compromisso do festival para fugir ao debate do género binário, mas devido às regras dos prémios Goya - o principal galardão atribuído em Espanha -, Sofia Otero, não pode repetir o feito, já que a Academia de Cinema do seu país natal só permite candidatos acima dos 16 anos.
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