O senhor arquiteto levitava. Ou pelo menos sonhava com a sua própria levitação. Era uma luta insana. Deixava-o exausto, a princípio. Embora nunca vencido. Nunca resignado. E tanto levitava, ou tanto sonhava com as deambulações do homem levitado, que chegava a sonhar ser autêntica a levitação sonhada. Na madrugada de 31 de dezembro de 1974 para 1 de janeiro de 1975, teve o seu nono sonho de levitação. O primeiro ocorrera na madrugada de 10 para 11 de março de 1958. Descrevia todos os sonhos. Naquele de 1975 deixa uma observação final: “Neste momento em que anoto o sonho, sinto uma ideia de verdade sobre a possibilidade de me poder levitar.”
Não se tome a descrição desta particular característica do arquiteto, pintor, arqueólogo, entusiasta da astronomia, ou especulador científico Fernando Lanhas (1923-2012), como ironia desdenhosa sobre uma hipotética leviandade idiossincrática. Mergulhar no percurso de vida deste homem nascido no Porto há um século desemboca sempre na perceção de estarmos perante alguém cuja ambição passava por saber tudo de todas as maneiras. Tinha como desejo maior compreender as coisas do mundo e do universo. Formado em arquitetura pela Escola de Belas Artes do Porto, embrenha-se na construção de mapas, estudos, projeções. Em particular a partir dos primeiros anos da década de 1960 surgem instrumentos como o “Estudo do Quadro Geral do Universo”, o “Mapa Arqueológico do Distrito do Porto”, o “Cosmoscópio”, ou a “Carta das Distâncias Entre o Sol e Algumas Estrelas”.
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