
Antiga correspondente em Pequim do “The Guardian”, Tania Branigan escreve sobre a memória reprimida da Revolução Cultural chinesa e as sequelas desta nas atuais gerações
Antiga correspondente em Pequim do “The Guardian”, Tania Branigan escreve sobre a memória reprimida da Revolução Cultural chinesa e as sequelas desta nas atuais gerações
António Caeiro
A China mudou muito nos últimos 45 anos, mas o veredicto oficial sobre a década da Revolução Cultural (1966-76), pronunciado no início da política de Reforma Económica e Abertura ao Exterior, não se alterou: “Foi o maior erro e o maior retrocesso desde a fundação da República Popular”, em outubro de 1949. Ponto final, parágrafo: assunto encerrado. Fácil de dizer, difícil de viver. Morreram cerca de 2 milhões de pessoas, muitos outros milhões foram perseguidos e torturados. “Não houve local de trabalho que permanecesse intacto [...], nenhuma família que ficasse inocente”, escreve a jornalista Tania Branigan no livro “Memória Vermelha”.
Como e porquê morreram essas pessoas? Quem instigou os jovens guardas vermelhos a espancar os professores considerados “reacionários” ou a saquear as casas ditas burguesas? Quem defendia o “terror vermelho” para “eliminar todos os revisionistas infiltrados no Partido” e “aprofundar a luta de classes”? Lembrar esse sofrimento e essa violência é perigoso: mancha a imagem do Partido e, sobretudo, do fundador do regime, Mao Zedong. O retrato do Grande Timoneiro da Revolução Chinesa continua afixado na Praça Tiananmen (literalmente, a Praça da Porta da Paz Celestial), no centro de Pequim, e o seu corpo embalsamado está exposto num mausoléu construído no extremo sul da vasta praça. Nos manuais escolares chineses há alguns parágrafos dispersos sobre a Revolução Cultural, mas “não há menção nem de sofrimento nem de morte; não há menção das vítimas”, refere Branigan.
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