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Livros: Henrique Raposo de morte em morte. Uma estreia auspiciosa e inquietante

“Póvoa, Odivelas, Ramada, Bela Vista (...) O velho chaço azul só conseguia subir em primeira ou segunda”, lê-se
“Póvoa, Odivelas, Ramada, Bela Vista (...) O velho chaço azul só conseguia subir em primeira ou segunda”, lê-se

“As Três Mortes de Lucas Andrade” é a estreia de Henrique Raposo no romance. Seiscentas páginas de um retrato dos primórdios dos arrabaldes de Lisboa

Luísa Mellid-Franco

Um palmo acima do lodo. Este poderia ser o leitmotiv de “As Três Mortes de Lucas Andrade”. Na sua génese, porém, teve primeiro de atolar, nos barreiros da Serra de S. Jerónimo, um rapazinho acanhado chamado João Miguel durante os 11 primeiros anos de vida, que experimentou o pavor nos morros da periferia de Lisboa antes de se corromper e transmutar em Ruço, vítima, carrasco ou, apenas, sobrevivente.

A penúria na ruralidade e a penúria da suburbanidade são realidades diferentes, mas ambas buriladas pela força de códigos ancestrais, apenas compreensíveis à luz de uma existência no fio da navalha, mas dificilmente inteligíveis a quem não pertence à respetiva tribo. O autor multiplica-se em denominadores, conforme os cenários escritos em pedaços de vida: o João Miguel da serra interior morre no dia a dia suburbano, e é o Ruço quem lhe veste a pele e consegue resistir à violência e à pobreza, sucumbindo ao mal e ao caos, ao tumulto da crueldade e à marca indelével da desumanidade.

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