Esta é a aventura de quem ousou atravessar a Antártida a pé pelo Polo Sul

No início do século XX, coexistiram no Reino Unido dois paradigmas de explorador polar. De um lado Robert Falcon Scott, que competiu diretamente com Roald Amundsen na corrida para chegar primeiro ao Polo Sul. E perdeu. Quando atingiu finalmente o objetivo, em janeiro de 1912, com um atraso de 33 dias, ao encontrar a tenda do rival, e uma bandeira norueguesa, terá afirmado: “Deus do Céu! Este lugar é tenebroso.” No regresso, Scott e os seus quatro homens ficaram isolados na neve, sem mantimentos. No diário, escreveu: “Morreremos como cavalheiros.” E morreram mesmo.

Atitude muito diferente tinha Ernest Shackleton, que fazia questão de pôr o bem-estar e a sobrevivência dos seus homens acima de tudo, até de um eventual lugar na História. Em 1907, na sua primeira grande expedição, a Nimrod, avançou com três companheiros pelos glaciares e grandes extensões geladas, chegando muito perto do Polo Sul, a meros 150 quilómetros, mas desistiu por saber que não haveria comida suficiente para chegar até lá e voltar. Regressado a Inglaterra, terá dito à mulher: “Um burro vivo é melhor do que um leão morto, não é?” Mais tarde, em 1914, já com ambos os polos conquistados, apostou no que considerava ser o único grande feito que restava: uma travessia da Antártida, em toda a sua extensão, com passagem pelo Polo Sul. As coisas voltaram a correr mal e a odisseia do navio “Endurance”, que ficou preso num banco de gelo no mar de Weddell, durante meses, até se afundar (o que obrigou os 22 homens da tripulação a terem de sobreviver mais de um ano em condições extremas, literalmente no fim do mundo), tornou-se um episódio lendário. Apesar de todas as contrariedades imagináveis, Shackleton conseguiu ir à procura de socorro e resgatou todos os seus subalternos com vida.

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