
A escrita de Rui Nunes ergue-se, fragmentária e fulgurante, das ruínas dos códigos literários. “Neve, Cão e Lava” é lançado no 85º aniversário do poeta
A escrita de Rui Nunes ergue-se, fragmentária e fulgurante, das ruínas dos códigos literários. “Neve, Cão e Lava” é lançado no 85º aniversário do poeta
Na última década, a obra literária de Rui Nunes foi-se tornando cada vez mais esparsa e avessa a códigos literários. É como se o escritor pairasse sobre um campo de escombros, um cenário apocalíptico, consciente de que a literatura já não é capaz de abarcar a complexidade do mundo e que, por isso, o máximo a que pode aspirar é mergulhar-nos no desconcerto, escancarando a “violência terminal” do nosso tempo e exibindo, como num espelho, o brilho fátuo das nossas próprias ilusões. De certa maneira, os textos de Rui Nunes nascem da assumida dificuldade de dar um sentido ao que somos, ao modo como experimentamos a vida e nos relacionamos com a morte. Neste novo livro, o mais do que esquivo narrador fala-nos a partir de um exílio sem regresso, um lugar que é “a nossa terra exausta, a nossa palavra exausta, a nossa escrita exausta”. Como se tentasse inventar, depois da tábua rasa, uma linguagem nova, no meio das ruínas da cultura do passado (veja-se o extraordinário parágrafo em que cruza personagens de Stendhal, de Tolstoi, de Kafka, de Camus, da “Ilíada”, para terminar numa memória de infância, a mão do avô como primeira e última chegada, a sua Ítaca).
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