A Guerra Incomportável: um dicionário para entender as facetas da guerra à nossa porta

O primeiro livro a expor os perigos de deixar apenas nas mãos dos ucranianos o destino da Ucrânia
O primeiro livro a expor os perigos de deixar apenas nas mãos dos ucranianos o destino da Ucrânia
É algo redundante, até engraçado, opinar acerca da obra de Germano Almeida, um profissional com mais de duas décadas de Política Internacional, para dizer que ela é de uma qualidade distinta. Outros grandes especialistas, como é o caso de José Milhazes, já o fizeram: para Milhazes, autor do prefácio deste livro, A Guerra Incomportável é “o estudo mais alargado e profundo da ‘operação militar especial’ de Vladimir Putin na Ucrânia editado em português.”
Completo, claro e com vários cunhos pessoais, este livro permite a todos compreender o que se passa no mundo, sobretudo na Europa, desde 24 de fevereiro de 2022. E é este, provavelmente, um dos seus pontos mais fortes, quer do livro, quer do próprio autor: Germano Almeida escreve para todos, numa linguagem simultaneamente sofisticada e acessível, permitindo-se chegar a qualquer leitor. A organização do índice em pequenos subcapítulos de três a seis páginas cada convida a uma leitura direta e descomplicada. A somar a isso, todos os capítulos, cinco no total, fornecem, para além de um conjunto de considerandos do autor, informações úteis e detalhadas como: datas essenciais, palavras-chave, respostas a dúvidas comuns e ainda uma análise prognóstica do que nos pode reservar o ano de 2024.
Os acontecimentos na Ucrânia têm motivado um conjunto de intelectuais das mais diversas áreas a pensar a guerra enquanto fenómeno transversal. É por isso que nos chegam, através dos grandes ecrãs e da imprensa escrita, a análise e opinião de militares, politólogos, sociólogos, psicólogos, economistas, jornalistas. A particularidade d’ A Guerra Incomportável é o facto de compilar tão pertinentemente todas estas áreas numa espécie de manual que nos dá a conhecer quase todas, se não todas, as facetas da nova Guerra Fria.
Para Germano Almeida, nesta guerra só há um agressor e, claro, um agredido. Como o próprio a considera, foi a decisão delirante de Putin que colocou a Ucrânia, a Europa e o mundo debaixo de uma nova forma de fazer política – na verdade, uma forma manifestamente obsoleta no nosso século XXI, mas não no século XXI do Presidente russo. Os objetivos de Putin não se esgotarão no horizonte ucraniano, o autor alerta. E é por isso que é impreterível uma vitória da Ucrânia, porque “o que acontecer na Ucrânia não ficará na Ucrânia.” Ao contrário do que possa ter sido a intuição inicial do Kremlin, o Ocidente e as suas instituições uniram-se, desde a “operação militar especial,” para honrar a história e independência ucranianas, mas também para conter quaisquer que sejam outras pretensões do regime de Putin no espaço pós-soviético. “A era dos impérios acabou,” di-lo Anne Applebaum, citada por Germano Almeida, e é essencialmente essa a mensagem que é preciso fazer chegar à Rússia.
Passar esta mensagem implica riscos, leva tempo, obriga a sacrifícios. Estes riscos, este tempo e estes sacrifícios são alvo da análise de Germano no terceiro capítulo do livro, onde o autor nos elucida acerca dos perigos associados a ceder perante uma “fadiga mediática” provocada por mais de um ano de guerra nos noticiários nacionais. Normalizar as atrocidades a que os media nos dão acesso pode, em última análise, equivaler à prevalência do autoritarismo sobre a democracia, e isso é preciso evitar a todo o custo. Os resultados dessa normalização podem acarretar consequências não apenas para os ucranianos, mas para todos nós, leia-se, Humanidade. Este panorama descontrolado é o último dos “quatro cenários” propostos por Germano Almeida no quinto e último capítulo deste livro, arrumando em poucas linhas o que podem ser “possíveis saídas para o conflito.” O descontrolo de que fala o autor é mesmo a ameaça nuclear. Os seus cenários alternativos são o otimista, o pessimista e o realista. Eis o meu convite para visitar A Guerra Incomportável.
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