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Cultura

O mundo de Augusto Cabrita, grande fotógrafo do século XX português

Retrato dos anos 60 de Amália Rodrigues, para quem Cabrita fez numerosas capas de discos
Retrato dos anos 60 de Amália Rodrigues, para quem Cabrita fez numerosas capas de discos

“Fotógrafo, documentarista, homem do cinema e da televisão”, foi um dos mestres da imagem do século XX português. No centenário de nascimento, uma exposição revela o seu mundo

No Barreiro redescobre-se Augusto Cabrita, o artista que se dedicou a vários ofícios da imagem e se descreveu como “fotógrafo, documentarista, homem do cinema e da televisão”. Fascinado pela luz e pela água, pela geometria dos navios e das cidades, pelo movimento das ruas e pelo fluxo da multidão, pelos rostos singulares de anónimos e de amigos, pelos ritmos do jazz e pelas conversas sem tempo, sobretudo apaixonado pela vida até ao fim dos dias, foi pela fotografia que a sua aventura começou. A primeira, contou numa entrevista radiofónica realizada por Alice Cruz, amiga e colega na RTP, foi tirada em 1935, num dia de Santo António, na Amadora, tinha então 13 anos. Sobre essa imagem de um barco, um Rinker 204 — captada pela sua primeira máquina, uma Kodak 6 x 11, comprada pelo pai numa loja de penhores —, revelou que o que o surpreendera naquele fundo desfocado fora “a nitidez espantosa da carlinga, do leme e do gráfico 204”. Essa imagem ficou guardada como um marco do dia em que, pela primeira vez, descobriu que a “fotografia documento é a grande fotografia, por ser também recordação”.

É precisamente pelas imagens de navios, pelo mar e os lavores em redor da água, que se inicia a exposição “100 Anos de Augusto Cabrita: Um Olhar Inédito”, que ocupa dois pisos do auditório com o seu nome, no Barreiro. São 128 fotografias a preto e branco que atravessam as múltiplas fases do seu percurso, sobretudo enquanto repórter, sendo que o que aqui se mostra é apenas uma ínfima parte do seu espólio. A seleção das imagens e a curadoria da exposição foi levada a cabo por Augusto António Cabrita, neto do autor, que mergulhou no imenso arquivo, leu cartas e folheou livros, procurando documentos para encontrar datas e identificar trabalhos “num processo fascinante” que o levou, também a ele, à descoberta do avô que nunca conheceu. O que agora se apresenta é resultado desse trabalho, propondo-se assim uma espécie de viagem exploratória em redor do universo fotográfico de Cabrita.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ASoromenho@expresso.impresa.pt

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