
“Fotógrafo, documentarista, homem do cinema e da televisão”, foi um dos mestres da imagem do século XX português. No centenário de nascimento, uma exposição revela o seu mundo
“Fotógrafo, documentarista, homem do cinema e da televisão”, foi um dos mestres da imagem do século XX português. No centenário de nascimento, uma exposição revela o seu mundo
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No Barreiro redescobre-se Augusto Cabrita, o artista que se dedicou a vários ofícios da imagem e se descreveu como “fotógrafo, documentarista, homem do cinema e da televisão”. Fascinado pela luz e pela água, pela geometria dos navios e das cidades, pelo movimento das ruas e pelo fluxo da multidão, pelos rostos singulares de anónimos e de amigos, pelos ritmos do jazz e pelas conversas sem tempo, sobretudo apaixonado pela vida até ao fim dos dias, foi pela fotografia que a sua aventura começou. A primeira, contou numa entrevista radiofónica realizada por Alice Cruz, amiga e colega na RTP, foi tirada em 1935, num dia de Santo António, na Amadora, tinha então 13 anos. Sobre essa imagem de um barco, um Rinker 204 — captada pela sua primeira máquina, uma Kodak 6 x 11, comprada pelo pai numa loja de penhores —, revelou que o que o surpreendera naquele fundo desfocado fora “a nitidez espantosa da carlinga, do leme e do gráfico 204”. Essa imagem ficou guardada como um marco do dia em que, pela primeira vez, descobriu que a “fotografia documento é a grande fotografia, por ser também recordação”.
É precisamente pelas imagens de navios, pelo mar e os lavores em redor da água, que se inicia a exposição “100 Anos de Augusto Cabrita: Um Olhar Inédito”, que ocupa dois pisos do auditório com o seu nome, no Barreiro. São 128 fotografias a preto e branco que atravessam as múltiplas fases do seu percurso, sobretudo enquanto repórter, sendo que o que aqui se mostra é apenas uma ínfima parte do seu espólio. A seleção das imagens e a curadoria da exposição foi levada a cabo por Augusto António Cabrita, neto do autor, que mergulhou no imenso arquivo, leu cartas e folheou livros, procurando documentos para encontrar datas e identificar trabalhos “num processo fascinante” que o levou, também a ele, à descoberta do avô que nunca conheceu. O que agora se apresenta é resultado desse trabalho, propondo-se assim uma espécie de viagem exploratória em redor do universo fotográfico de Cabrita.
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