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Shehan Karunatilaka, vencedor do prémio Booker: “Não acho que os livros sejam coisa por que valha a pena morrer”

Shehan Karunatilaka venceu o prémio Booker em 2023
Shehan Karunatilaka venceu o prémio Booker em 2023
ARIF ALI/AFP/Getty Images

Shehan Karunatilaka venceu o maior galardão para obras de ficção em inglês com “As sete luas de Maali Almeida”, que o Clube de Autor lança em português esta quarta-feira. Oriundo do Sri Lanka, falou com o Expresso na capital do país sobre os fantasmas presentes no livro, a sua paixão pela música e a grave crise económica que assola um país onde a liberdade de expressão se defende, muitas vezes, na prisão

Paula Alves da Silva, em Colombo

É na sua casa, em Colombo, sozinho na sala que serve de espaço imaginário às suas histórias, que Shehan Karunatilaka recebe o Expresso, um mês depois de ter vencido o Booker. Foi o segundo da sua nacionalidade na lista de laureados, depois de Michael Ondaatje em 1992. Acontece, porém, que o autor de “O paciente inglês” tem dupla nacionalidade (também é canadiano) e ganhou o prémio ex aequo com o britânico Barry Unsworth, pela obra “Sacred hunger”. O vencedor de 2023 será anunciado no próximo dia 26 de novembro.

O lápis e o papel onde nascem os livros de Karunatilaka estão parados perante as inúmeras entrevistas e telefonemas. “Tenho-me estado a esconder”, conta, ainda a absorver o enorme salto na carreira, numa altura em que o país vive a pior crise económica dos últimos 70 anos. “As sete luas de Maali Almeida” conduz-nos às entranhas sangrentas da guerra civil para nos contar a história de um fotojornalista que tem sete dias para descobrir quem o matou e mostrar ao mundo o que se passa no país através das suas fotografias. Uma história entre vivos e fantasmas onde o humor negro serve de bálsamo às feridas e amacia a critica política.

Como foi ganhar o Booker?
Não estava à espera. Fazer parte da lista de candidatos era suficientemente bom, mas eis que aconteceu. A primeira semana foi implacável, não só pelas entrevistas e a imprensa como pelos muitos publicistas e agentes editoriais que tentaram contactar-me. Agora voltei a casa, a ver os meus filhos e a ter tempo para pensar. Isto mudou a minha carreira. Nada nos prepara para isto. O meu primeiro livro, “Chinaman” [sem edição portuguesa], correu bem, mas este vai ser lido em todas as partes longínquas do globo. Portanto, há pressão, mas é maravilhoso.

Ocorreu-lhe que pudesse ganhar numa altura em que a crise económica e política implodia no Sri Lanka?
Como escritor, estava ali sentado a tomar notas, porque sei que alguém vai escrever esta história de 2022.A dada altura não havia gás para cozinhar, além das filas para o combustível e o aumento do custo de vida. A violência estava ao virar da esquina, embora tenhamos este ar alegre e amigável e pareçamos resilientes. Estava a cuidar das crianças quando recebi um telefonema da minha editora a dizer que era candidato. Foi surreal, os livros não estavam a chegar ao Sri Lanka. Só quando as pessoas começaram a ver a lista e a comentar é que percebi que era uma lista de qualidade sem vencedor claro. Não havia nenhum Rushdie ou outro grande nome. Fica-se grato pela sorte, mas não se espera ganhar. Depois, fiquei encantado. Não sei onde me levará, mas acho que vou estar muito ocupado.

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