Há três anos e meio, Juan Gabriel Vásquez participou no festival Correntes D’Escritas, na Póvoa de Varzim, cidade nortenha onde em 2018 recebera o Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído ao romance “A Forma das Ruínas”. Entre os amigos que reviu nessa altura estava Luís Sepúlveda, o escritor chileno que já estaria infetado com covid-19 (de que viria a morrer poucas semanas depois) e que provavelmente o contaminou. De regresso à Colômbia, Vásquez foi declarado o paciente nº 2 no país. Em março, quando o mundo se confinou, ele já deixara a doença para trás e pôde então gozar o raro privilégio de vários meses de dedicação total à escrita, sem viagens, trabalhos paralelos e outras distrações. Assim nasceu, em tempo recorde, o seu mais recente romance, “Olhar para Trás”, que transporta o leitor, por interpostas personagens, até à Guerra Civil de Espanha e à Revolução Cultural chinesa, uma fuga talvez inesperada ao tema central da obra romanesca de Vásquez e sua “obsessão” maior: a História, sempre marcada pelo espectro da violência, do seu país natal.
Em 2023, Juan Gabriel Vásquez voltou à Póvoa de Varzim e a Lisboa para apresentar a edição portuguesa do seu segundo volume de contos, “Canções Para o Incêndio” (Alfaguara). Numa das histórias do livro, ‘As Más Notícias’, evoca os tempos difíceis que passou em Paris, no final dos anos 90, com a sombra do fracasso a pairar sobre os seus esforços literários e uma dúvida a crescer quanto à possibilidade de cumprir o seu sonho de se tornar escritor. Foi por aí que esta conversa teve início, num momento em que Vásquez atingiu uma idade redonda e essas dificuldades iniciais parecem agora um mero preâmbulo, talvez necessário, para os triunfos que o esperavam mais à frente, no caminho tomado e de que nunca duvidou.
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