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O iraniano Ali Ahmadzadeh vence em Locarno: “Critical Zone” é o novo Leopardo de Ouro

Ahmadzadeh numa foto de rodagem de “Critical Zone”
Ahmadzadeh numa foto de rodagem de “Critical Zone”

“Do Not Expect Too Much of the End of the World”, filme do romeno Radu Jude que se apontou como favorito, ficou com o Prémio Especial do Júri. A ucraniana Maryna Vroda venceu o Leopardo de Prata para Melhor Realização por “Stepne”. O festival termina este sábado à noite, sem portugueses no palmarés

O novo filme do iraniano Ali Ahmadzadeh conquistou este sábado o Leopardo de Ouro da 76ª edição do Festival de Locarno. “Critical Zone” foi realizado na clandestinidade e, sem rasto de vitimização e de miserabilismo, foca-se no tráfico de droga dos bas-fonds da capital iraniana através dos olhos de Amir, um pequeno traficante que, contornando o cliché esperado, é uma espécie de “santo urbano”, à medida que deambula pela cidade de carro e vai escutando o que lhe diz a diversa clientela notívaga, do consumidor regular à hospedeira de bordo envolvida no tráfico. O próprio filme é uma 'noite interminável', jamais a luz do dia tem entrada no ecrã.

Rodado com intérpretes não profissionais e no mais absoluto sigilo antes dos gigantescos protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini - a jovem curta de 22 anos que não sobreviveu ao espancamento da “polícia da moralidade” por uso incorreto do hijab (lenço islâmico) -, “Critical Zone”, ainda para mais galvanizado agora pela conquista deste importante prémio internacional, é um dos mais contestatários retratos de uma geração iraniana encurralada e muito perto do limite.

“Este filme fala de algo que está a borbulhar agora na sociedade iraniana”, contou em Locarno o produtor Sina Ataeian Dena. “É o resultado de uma reflexão artística sobre a fúria e a raiva das novas gerações no submundo do país. E este submundo é enorme.” Como antes se escreveu, Ali Ahmadzadeh foi notícia ainda antes do festival começar. As autoridades iranianas pressionaram-no a retirar o filme de Locarno mal a obra foi anunciada; o festival suíço, por outro lado, tentou retirar o cineasta do seu país logo em julho, antes do anúncio, mas não conseguiu.

O cineasta não veio à Suíça e está em parte incerta. Não é improvável que tenha já sido preso. “Não há liberdade de expressão no Irão, este prémio deveria ser um momento de felicidade mas Ali Ahmadzadeh não está entre nós. O seu único crime foi fazer cinema”, disse Sina Ataeian Dena.

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