Cultura

Dia Mundial do Teatro: em tempos de instabilidade apela-se ao grito em nome de uma só humanidade

Teatro Andromeda, na Sicilia
Teatro Andromeda, na Sicilia

Samiha Ayoub, a autora da mensagem que será lida no dia Mundial do Teatro, convida os espectadores de todo o mundo que se levantem, deem as mãos e gritem, para assim despertar outra consciência. "Gritem bem alto, como é hábito fazermos nos palcos dos nossos teatros", reforçou a atriz egípcia

A mensagem que se lerá hoje nos teatros do mundo é em si um ato poético e performativo. A autora do texto, a atriz egípcia Samiha Ayoub, inspira-se numa frase do dramaturgo e encenador russo Stanislavski – “Nunca entrem no teatro com lama nos pés. Deixem toda a poeira e sujidade lá fora” – para apelar à ação, mais do que à celebração.

O momento é trágico, quer pelas guerras e calamidades ecológicas e climáticas, geradoras de um profundo sentimento de instabilidade, quer pelo isolamento que, paradoxalmente, vivemos neste mundo cada vez mais global: “Nunca estivemos tão estreitamente ligados uns aos outros, como hoje em dia, mas da mesma forma, o mundo tal como o conhecemos nunca esteve tão dissonante, afastando-nos um dos outros. (...) No meio da aparente convergência, uma divergência fundamental afasta-nos da verdadeira essência da Humanidade na sua forma mais elementar,” escreveu a atriz.

Remetendo para as artes, e para o teatro em particular – “pai de todas as artes” – a capacidade de agir a partir da essência da humanidade, que é a vida, Samiha Ayoub, quer que empreguemos os nossos esforços – “o nosso tempo, o nosso suor, as nossas lágrimas, o nosso sangue e os nossos nervos” – na defesa dos valores da verdade, do bem e da beleza, acreditando sinceramente que a vida merece ser vivida.

Ayoub convida os espectadores de todo o mundo a se levantarem para que juntos, de mãos dadas, e ombro a ombro, possam gritar: “Gritem bem alto, como é hábito fazermos nos palcos dos nossos teatros (Deixando )assim sair as palavras para despertar a consciência do mundo inteiro, para encontrar em nós mesmos a essência perdida da Humanidade. Do homem livre, tolerante, amoroso, simpático, dócil e receptivo. (...) Tirem os pés da lama das guerras e dos conflitos sangrentos, e deixem-na à entrada de cena.”

A atriz chama também a todos os que trabalham no teatro a obrigação de estar na “vanguarda da confrontação com tudo o que é feio, sangrento e desumano”. O seu apelo é ao belo, ao puro e humano: “Somos nós, e mais ninguém, quem tem a capacidade de espalhar vida. Espalhemo-la juntos, em nome de um só mundo e de uma só uma humanidade.”


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