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No coração da Amazónia de Sebastião Salgado regressamos ao paraíso

No coração da Amazónia de Sebastião Salgado regressamos ao paraíso

Um retrato emocionante do pulmão da Terra, graças ao génio fotográfico do casal Sebastião Salgado e Lélia Wanick, no Museu da Ciência em Londres. É urgente trazer a exposição “Amazônia” a Portugal

Visitar a exposição de Sebastião Salgado no Science Museum de Londres é entrar no coração da Amazónia por terra, água ou ar. Graças à transcendente e eficaz montagem de Lélia Wanick Salgado (mulher do fotógrafo) e ao ambiente sonoro — sons concretos e naturais, mas também música de Heitor Villa-Lobos (“Erosão — A Origem do Rio Amazonas”, 1951) e uma imersiva paisagem sonora de Jean-Michel Jarre composta propositadamente para esta exposição — qualquer visitante sente-se parte do todo amazónico e portanto responsável pela sua conservação. Suspensas do teto no espaço enorme mas atulhado (e propositadamente desorientante) da exposição, as fotos transformam-se em criaturas vivas e luminosas que nos rodeiam e interpelam. As árvores seculares estendem-nos os braços e a nossa resposta só pode ser uma: “Ação!” Ainda iremos a tempo de salvar o planeta? E aqui, no Portugal pequenino, teremos a vontade de proteger a Natureza e o património, hoje a saque no Alentejo (e não só)? É urgente trazer cá esta exposição!

Sebastião Salgado é o fotógrafo épico do nosso tempo. Enfrentou os quatro elementos — Terra, Água, Ar e Fogo — nos 120 países onde trabalhou. Depois do Sahel, do Ouro (amarelo, na Serra Pelada; negro, no Kuwait), do Trabalho, do Génesis e da África (onde nasceu o Homo sapiens), assistimos agora ao regresso às origens brasileiras e ao pulmão da Terra que é a Amazónia. Não terá sido por acaso. Um pulmão constantemente ameaçado e infetado, em vias de ser destruído pela cupidez e corrupção humanas (com a ajuda do Governo de Bolsonaro). Nos últimos 30 anos perdeu-se cerca de 20% da sua biomassa, com os fogos postos e a desmatação e desflorestação para a criação de gado (e concomitante exploração madeireira), a apropriação criminosa da orla florestal por milhares de fazendeiros para o cultivo da soja, a poluição dos rios devida à prospeção do ouro, a abertura de estradas e caminhos para o tráfico de droga e o contrabando de armas, etc. As árvores e as plantas (clorofila) absorvem o dióxido de carbono atmosférico para crescer, libertando oxigénio. Queimar uma floresta como a Amazónia é roubar oxigénio à atmosfera para criar uma ‘bomba de carbono’, precisamente aquilo que o mundo tem de combater. Se não pararmos a destruição da Amazónia, perderemos a luta contra as alterações climáticas.

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