
Paul Thomas Anderson regressa à Los Angeles dos anos 70 com uma história de um boy meets girl improvável e dois ótimos debutantes. Chama-se “Licorice Pizza” e é um caldeirão de memórias e nostalgia. Chega às salas dia 30
Paul Thomas Anderson regressa à Los Angeles dos anos 70 com uma história de um boy meets girl improvável e dois ótimos debutantes. Chama-se “Licorice Pizza” e é um caldeirão de memórias e nostalgia. Chega às salas dia 30
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Não é um filme de rutura, pelo contrário. O mais justo é mesmo dizer que “Licorice Pizza” se trata de retorno a abrigo seguro — a Los Angeles, cidade natal; aos anos 70 do filme que o lançou, “Jogos de Prazer” — e contudo não deixa de significar uma inflexão acentuada no percurso de Paul Thomas Anderson. O cineasta que foge tanto quanto pode, à semelhança do compincha Tarantino, de qualquer coisa que se assemelhe a reflexo do tempo presente, ele que, tal como o mesmo compincha, é um indefetível do Kodak 35mm (“Licorice Pizza”, tal como aconteceu a todos os filmes de PTA desde “O Mentor”, teve igual direito a blow up para cópia em película 70mm, luxo para a cinefilia de L.A. ao alcance de poucos), vinha de quatro character studies profundos, complexos, ambíguos, quatro retratos de homens a perderem o poder que tiveram, ou a perderem-se eles próprios pelo caminho, dominados em absoluto pelo carisma dos seus protagonistas, atores superlativos que sempre sugam o espaço à sua volta — Daniel-Day Lewis em “Haverá Sangue” e “Linha Fantasma”, Joaquin Phoenix em “O Mentor” e “Vício Intrínseco”.
Em “Licorice Pizza”, nada disso, aqui não há catástrofes de monta em rima com tumultos históricos, nem intrigas policiais sideradas em Pynchon, tão-pouco cheiro a novelas góticas com cogumelos ligeiramente venenosos. Pela primeira vez em muito tempo no universo de PTA respira-se certo alívio mundano que convida a comédia, com um humor soalheiro de west coast (aviso à navegação: o título é homenagem a uma extinta loja de discos de San Fernando Valley jamais mencionada pelo filme). Estamos em Encino, o mesmo bairro de “Jogos de Prazer”, não longe de Hollywood, na segunda metade de 1973 em que se deu a crise do petróleo do Médio Oriente.
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