A National Gallery, um museu londrino que é dos mais importantes no mundo, publicou esta segunda-feira no seu site dados de investigações levadas a cabo sobe a relação, direta e indireta, de certas obras de arte com a escravatura. As investigações para já referem-se ao período entre 1824 e 1880, mas futuramente cobrirão o período desde 1640 e as décadas entre 1880 e 1920.
A ideia é a de explorar em que medida a sua própria história está ligada ao tráfico de escravos. Sabe-se que o museu foi fundado com base na aquisição de 38 quadros que pertenciam a um homem chamado John Julius Angerstein, que se especializava em seguros marítimos e trabalhava naquilo que posteriormente veio a ser o Lloyd's de Londres.
Ao todo, para já, estão em causa quase sete dezenas de doadores e outros responsáveis, artistas e modelos. A ligação à escravatura pode ser de vários tipos: o proprietário de uma obra (ou a pessoa nela retratada) teve envolvimento direto no tráfico de escravos, ou fez fortuna com produções onde o trabalho deles era usado, ou geria ou representava os proprietários dessas produções. No caso dos artistas, a ligação pode ser tão indireta como terem retratado uma dessas pessoas.
O projeto de investigação foi iniciado em 2018, antes do movimento anti-racismo se intensificar devido ao assassinato de George Floyd, mas está em sintonia com tendências já antes em curso, e que têm levado à remoção de obras e monumentos públicos em diversos países. Contudo, a National Gallery, citada pelo diário britânico "The Guardian", explicou que nenhum quadro será removido por causa da sua ligação à escravatura.
"Queremos gerar discussão e compreensão sobre estas questões", explicou um porta-voz. "Muito trabalho foi levado a cabo pela equipa curadora nesta área, e as etiquetas na galeria marcam claramente onde os quadros estão associados à escravatura".
Além de pessoas associadas à escravatura, o site do museu assinala outras ligadas ao movimento anti-esclavagista, bem como algumas que tiveram ligação às duas coisas. Por vezes, a ligação é por via familiar, ou em virtude de um proprietário precedente da obra estar envolvido no tráfico de escravos, segundo o "Guardian".
Um professor de história africana, igualmente citado pelo jornal, acolhe a iniciativa mas considera que é "muito pouco, muito tarde" e nota a ausência de um projeto de reparações, ou qualquer intenção expressa de estender a investigação até às depredações coloniais posteriores ao fim da escravatura.
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