7 junho 2021 14:04

Alfred Brendel é o destaque maior do festival. Deixou os palcos em 2008, volta a Portugal para ser homenageado
ricardo dearatanha/la times via getty images
Homenagem a Alfred Brendel, centenário de Astor Piazzolla e um programa de assinalável ecletismo. Regressa o Festival de Música dos Capuchos, na Costa da Caparica, de 11 de junho a 3 de julho
7 junho 2021 14:04
Esta é a história de um renascimento que se faz entre reencontros e novos desafios. A partir de dia 11, com programação que se estende até 3 de julho, o Convento dos Capuchos de Almada volta a acolher, após duas décadas de silêncio, um festival que ali gerou um percurso com ressonâncias locais e internacionais. Com uma aposta no alargamento a novos géneros musicais, entre os quais o jazz, o Festival de Música dos Capuchos tem em Alfred Brendel um dos seus nomes de maior peso no cartaz. “É o último monstro sagrado, não só do piano, mas também da interpretação pós-II Guerra Mundial, da gravação, da discografia”, explica ao Expresso o diretor artístico do festival, o pianista Filipe Pinto-Ribeiro. Daí a homenagem que o festival lhe “quer prestar e que é possível acontecer”. Este era, como reconhece, “um desafio” que lhe foi lançado e que naturalmente poderia gerar dúvidas: “Como é que um homem que faz 90 anos em 2021 estaria disponível a vir ao renascimento de um festival?” Mas perante o “entusiasmo” que demonstrou, a programação avançou e agora anuncia uma conferência sobre o seu percurso de vida (dia 12, às 18h30), onde falará “das suas raízes, das suas inspirações e de uma carreira paradoxal”, assim como um momento de música e poesia (dia 13, às 17h30) no qual Brendel recitará poemas seus, com acompanhamento musical ao violoncelo pelo seu filho, Adrian Brendel. Filipe Pinto-Ribeiro lembra que Alfred Brendel “deixou os palcos em 2008” e, desde então, “começou a publicar cada vez mais livros de poesia e ensaios”. Tendo já visitado várias vezes Portugal, Brendel “tem aqui a sua estreia num festival de música” entre nós e através das suas memórias e poemas coloca-nos em sintonia com o que tem sido o foco do seu trabalho mais recente.
Adrian Brendel, que veremos também nos programas de homenagem ao pai, com música de Schubert, nos serões dos dias 12 e 13, estará igualmente presente, juntamente com Viviane Hagner (violino) e o coro Officium Ensemble, no concerto de abertura (dia 11, às 21h). Sob o mote “Bach e Polifonia Renascentista Portuguesa”, este momento pretende estabelecer uma ligação “ao período ativo do convento”. Haverá ali “um diálogo entre a polifonia renascentista portuguesa, com compositores como Manuel Cardoso, Duarte Lobo, Estêvão de Brito, entre outros”, com a música de Johann Sebastian Bach “como contraponto”. É um “diálogo de vozes, com o violino e o violoncelo” que terá como fio condutor o “Magnificat”, de Manuel Cardoso, “que se vai ouvir de forma intercalada entre a polifonia da Renascença portuguesa e a música de Bach”. A ligação temporal faz-se ligando o presente em que se escuta a música com a memória da época da construção do convento. Filipe Pinto-Ribeiro estabelece ainda uma relação entre este concerto de abertura e um outro, marcado para dia 26 (21h), um Recital de Alaúde e Vihuela por Hopkinson Smith, dedicado ao “século de ouro”, interpretando música espanhola e inglesa do renascimento. “É um programa muito interessante que acaba por ser também um tributo ao fundador do Festival dos Capuchos, José Adelino Tacanho, durante as 21 edições, até 2001, que estudou alaúde com o Hopkinson Smith em Basileia”. O próprio Hopkinson Smith “regressa aos Capuchos, uma vez que já esteve mais do que uma vez no festival quando José Adelino Tacanho era diretor, e também com Jordi Savall”, conta Filipe Pinto-Ribeiro.