Vinterberg sabe o que significa a provocação. Foi dele o primeiro tomo do Movimento Dogma 95 em que o realizador propôs, a par de Lars von Trier, sacudir o cinema europeu dos anos 90 com uma nova perceção do realismo — eram os tempos corrosivos de “A Festa”, uma seta apontada à má consciência escandinava e à sua classe média confortável, resignada, capaz das mais aberrantes parvoíces, fruto de tanta frustração contida. Foi sol de pouca dura que se extinguiu em 2003, Trier e Vinterberg seguiram entretanto caminhos distintos. Cada um deles tentou a sua sorte — e a abertura a uma carreira internacional — sem se perderem de vista. Vinterberg, contudo, foi o que ficou mais preso às raízes. Filho de um crítico de cinema, cresceu numa comunidade hippie da utópica Christiania, em que as drogas circulavam sem interdição em Copenhaga, e essa noção de grupo, de ‘família’ aberta a liberdades desejadas mas nem sempre concretizadas — Vinterberg sabe melhor do que ninguém como a Dinamarca também pode ser pequena, provinciana e mesquinha... —, foi uma ideia que jamais abandonou a sua obra. O cineasta precisa de reunir uma tribo à sua volta para trabalhar, é um observador mordaz de comportamentos sociais e de fragilidades humanas, gosta de ‘festas’ que tendem invariavelmente a correr mal. “Mais Uma Rodada” traz-nos outra do mesmo género. Esta é a história de quatro professores de liceu de Copenhaga que, fartos da modorra que lhes atazana os dias, decidem começar a beber logo pela manhã, controlando a embriaguez de grupo com alcoolímetros digitais. E não é que as aulas começam logo a ficar mais animadas? O pior é que, às tantas, alguns deles já nem conseguem voltar de carro para casa... “Mais Uma Rodada” é uma comédia insolente e um conto moral sobre quatro homens que querem voltar a sentir-se vivos.
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