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José Mattoso, a entrevista aos 88 anos. “Portugal continua a ser um país rural”

percurso O dele levou-o a Lovaina, onde estudou História, doutorando-se depois na Universidade de Lisboa. Foi o primeiro Prémio Pessoa, em 1987. Publicou 30 livros, sendo o último “A História Contemplativa”, de 2020
percurso O dele levou-o a Lovaina, onde estudou História, doutorando-se depois na Universidade de Lisboa. Foi o primeiro Prémio Pessoa, em 1987. Publicou 30 livros, sendo o último “A História Contemplativa”, de 2020

É um dos grandes historiadores portugueses, autor de vasta obra, antigo monge beneditino, professor que dissecou a época medieval. E que, aos 88 anos, já sem saúde, mantém que “Deus é o mais importante”

José Mattoso, a entrevista aos 88 anos. “Portugal continua a ser um país rural”

Tiago Miranda

Fotojornalista

Quando soube da proposta de lhe fazermos uma entrevista, aceitou com gosto. Disse que, provavelmente, seria a última. Pediu então que lhe enviássemos as perguntas, pois um Parkinson avançado impedia-o de ter uma conversa telefónica, ao mesmo tempo que a pandemia do novo coronavírus punha de parte a hipótese de um encontro. Com empenho e generosidade, aos 88 anos, dedicou-se a responder a mais de 20 questões, nas quais perpassa a sua relação com a História, a mudança para a vida laica do monge beneditino que foi em novo, o estudo profundo de um tempo sujeito a um sem-fim de ideias feitas. Em qualquer dos casos, não poupou palavras: falou do que, para ele, é ser historiador; fez a crítica de um Portugal ainda rural e desigual; explicou a sua relação com Deus; criticou a inexatidão da comunicação social na difusão de termos como ‘populismo’ e ‘extrema-direita’, cuja complexidade acaba “traduzida em afirmações genéricas”. Como era de esperar, pouco desvendou de si próprio, ele que não se sente bem em público e sempre procurou a discrição, mesmo quando os cargos que ocupava — presidente do Instituto Português de Arquivos, diretor da Torre do Tombo ou responsável pelo Arquivo da Resistência em Timor, que recuperou — o colocavam numa posição mais exposta. O Prémio Pessoa de 1987 é um homem que, hoje, coloca Deus acima da História, para quem a História procura aquilo a que Alberto Caeiro chamava “a espantosa realidade das coisas”. Uma realidade que ainda o surpreende, sobre a qual ainda age por meio de uma visão contemplativa, abrangente, intuitiva e atenta.

Quando soube que queria ser historiador? E porque queria sê-lo?
Para mim, a História está em segundo plano. O mais importante é a relação com Deus. Ou seja, a vida contemplativa, como existência consagrada a Deus por meio da oração comunitária, do estudo da palavra divina e do trabalho necessário ao sustento da comunidade. A vida monacal tem muitas formas específicas. O monge escolhe uma delas. Pode ser mais ou menos austera, mais ou menos marcada pelos vários aspetos que foi assumindo ao longo dos tempos. Quando alguém quer entrar na vida religiosa, procura conhecer a sua história, para verificar se corresponde ao seu temperamento e aos seus desejos. Em termos esquemáticos, assim aconteceu comigo. A História foi o caminho que segui para conhecer a ordem religiosa em que queria professar.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

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