Cultura

Morreu o crítico literário George Steiner aos 90 anos

O crítico literário, escritor e ensaísta George Steiner, fotografado em Jerusalém, em 2005
O crítico literário, escritor e ensaísta George Steiner, fotografado em Jerusalém, em 2005
Lior Mizrahi

A morte de Steiner foi confirmada pelo filho, David Steiner, e a imprensa internacional indica que faleceu na sua casa, em Cambridge, Inglaterra, onde o Expresso o entrevistou em 2017

George Steiner, crítico literário, professor nas universidades de Cambridge, em Inglaterra, e de Genebra, na Suíça, morreu esta segunda-feira aos 90 anos. A morte de Steiner foi confirmada pelo filho, David Steiner, e a imprensa internacional indica que faleceu na sua casa, em Cambridge, Inglaterra.

Era lá que há décadas se sentava em frente à máquina de escrever, com a qual deixou alguns dos mais relevantes textos sobre temas tão variados quanto a Europa, o poder moral da literatura, a verdade, as origens da fala. Poliglota, fazia exercícios de tradução todos os dias, para não deixar de o ser. Na sua autobiografia, publicada em 1998, “Errata: an Examined Life”, refere-se a essa condição de poliglota como estruturante na sua vida. Ao Expresso, numa entrevista de 2017 que deve ser lida AQUI, disse que falar várias línguas “é como ter diferentes casas, diferentes personalidades. Vive-se numa linguagem, não num lugar”.

Steiner foi criado entre o francês, o alemão e o inglês. Nasceu em Paris em 1929, filho de imigrantes austríacos, e estudou em Chicago, nos Estados Unidos, passando para Inglaterra, onde concluiu o mestrado em Harvard. Ganhou o Bell Prize in American Literature, prémio atribuído ao melhor ensaio de literatura americana, além de outras distinções. Tinha, desde 1944, cidadania norte-americana.

Ensaísta, escritor de ficção, professor, estudioso, crítico literário, foi admirado como um dos principais pensadores europeus do século XX, o que não o livrou das críticas dos detratores, que o acusavam de imprecisões ou de leviandade. No obituário feito pelo New York Times, é lembrada uma frase que resume essa ambiguidade. Escrita pelo crítico cultural Lee Siegel, no ensaio “Our Steiner Problem - and Mine”, publicado no The New York Times Book Review, em 2009, diz assim: “A sua estimulante virtude é a capacidade de passar de Pitágoras, através de Aristóteles e Dante, para Nietzsche e Tolstoi num único parágrafo. O seu irritante vício é passar de Pitágoras, através de Aristóteles e Dante, para Nietzsche e Tolstoi num único parágrafo.”

Em 2017, recebeu o Expresso na casa de Cambridge, na entrevista acima citada. Entre outras coisas, falou sobre a família de judeus fugidos da guerra, e da sua condição de sobrevivente. Sê-lo “é complicado”, disse. “Significa ter vergonha, perguntar-se: ‘porquê eu?’, quando os outros morreram. E, por outro lado, significa ter ao longo da vida a obrigação de nunca esquecer.”

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