Cultura

Como as fotografias sadomasoquistas de Mapplethorpe levaram à demissão de João Ribas de Serralves

Como as fotografias sadomasoquistas de Mapplethorpe levaram à demissão de João Ribas de Serralves
JOSÉ COELHO

Divergências com a administração a respeito da exposição de fotografias de Robert Mapplethorpe estarão na origem da decisão

João Ribas demitiu-se esta sexta-feira à noite do cargo de diretor artístico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. Ao jornal Público, Ribas afirmou que “já não tinha condições para continuar à frente da instituição”, embora tenha remetido para mais tarde a prestação de esclarecimentos sobre a decisão que comunicou aos responsáveis da Fundação de Serralves. Ribas ocupava o cargo de diretor artistico do Museu de Arte Contemporânea de Serralves há pouco mais de um ano.

Em causa está a exposição "Robert Mapplethorpe: Pictures", inaugurada na passada quinta-feira naquele museu, e que provocou um ponto final numa relação que já seria tensa, entre João Ribas e a administração da Fundação, liderada por Ana Pinho. Segundo várias fontes ouvidas pelo Expresso, João Ribas e Ana Pinho acumulavam já discordâncias quanto ao trabalho do diretor do museu e quanto à autonomia desse trabalho.

Robert Mapplethorpe (1946-1989) é considerado um dos artistas mais polémicos da contemporeneidade. O seu trabalho inclui fotografias de sexo explícito entre homens e imagens rotuladas como pornográficas e que atravessam fronteiras menos convencionais. A exposição de Serralves inclui várias fotografias explícitas, mas que estão numa sala de acesso reservado, sendo que algumas das fotografias que estavam inicialmente previstas acabaram por não ser expostas. Entre as mais polémicas, incluem-se fotografias sadomasoquistas dos anos 80, que já então provocaram celeuma.

Antes da inauguração, João Ribas tinha garantido ao jornal "Público" que "não ia haver salas especiais". Contudo, quando a exposição abriu as portas, uma das salas tem um aviso à porta com a indicação: "interdita a menores de 18 anos".

Desde o início da montagem da exposição da obra do fotógrafo norte-americano, tinha-se gerado um braço-de-ferro entre a administração da Fundação de Serralves e o diretor artístico de Serralves, também comissário da exposição. Este era uma das sua apostas mais fortes na programação de 2018, desde que assumiu o cargo de diretor da instituição,em janeiro deste ano.

O braço de ferro entre a administração de Serralves e as opções de João Ribas, enquanto comissário da exposição, começou ainda antes de a exposição inaugurar. A exposição iria inicialmente incluir 179 obras escolhidas pelo curador, mas acabou por ser composta por 159 fotografias. Vinte delas foram retiradas, tendo o gabinete de comunicação de Serralves justificado ao Público que tal acontecera "por opção do curador". Esta terá sido a gota de água, uma vez que a opção não terá sido sua. As decisões de vedar o acesso a menores de idade de uma parte da exposição, e a retirada de imagens com conteúdo sexual explícito, foram tomadas contra a vontade o diretor artístico do Museu e responsável pela mostra de obras do fotógrafo norte-americano.

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