Cultura

Séries do ano (artigo 1): “O Estado”, a série sobre o Daesh que até ensina a falar árabe

Séries do ano (artigo 1): “O Estado”, a série sobre o Daesh que até ensina a falar árabe
A produção televisiva de Peter Kosminsky, sobre a vida no autoproclamado Estado Islâmico, foi uma das grandes apostas da National Geographic. Nesta semana de Natal e depois na de ano novo, revisitamos as melhores séries de 2017 e antecipamos as que vão dar que falar em 2018
Séries do ano (artigo 1): “O Estado”, a série sobre o Daesh que até ensina a falar árabe

João Miguel Salvador

Coordenador digital

“Num lugar em que cada um é como um akhī (irmão), há que respeitar o amīr (líder da casa) e seguir os preceitos da dīn (religião) em todos os momentos. Ali, lembram-se os Hadīth (ensinamentos do profeta) e cumpre-se com a fard (obrigação religiosa) sem olhar para trás. No jannah (céu), há Hūr al-’ayn (virgens do paraíso) à espera, mas primeiro é preciso combater os infiéis, nem que seja um kafir (descrente) de cada vez. E não vale a pena desistir, porque não há perdão para murtaddīn (desertores).”

Foi com um texto repleto de termos em árabe que o Expresso apresentou “O Estado” por altura da estreia, depois de ter acesso ao episódio inagural em que também se falava do bay’ah (juramento de fidelidade) ao Dawlah al-islamiyah (o autoproclamado Estado Islâmico), de Dar al-kufr (o nome dado a todos os territórios dos descrentes) e de kunyah (o novo nome árabe pelo qual serão conhecidos), mas estávamos longe de imaginar que a criação de Peter Kosminsky se revelasse tão importante nos dias que correm.

A série inglesa seguiu as experiências de cinco britânicos (dois homens, duas mulheres e uma criança), que deixaram as suas vidas no Reino Unido para se juntarem ao Daesh em Raqqa, na Síria, mostrando a história de quem parte do seu país sem dar explicações mas que nem por isso deixa de ter as suas razões para o fazer. Para mais, tratam-se de motivos reais que só depois foram ficcionados. Sim, é mesmo isso: embora a série seja considerada um produto de ficção, a verdade é que as personagens são, de acordo com os responsáveis, uma mistura de várias pessoas reais.

Segundo Kosminsky, tudo o que é visto na trama aconteceu na realidade e foi descoberto a partir de um longo trabalho de pesquisa. Para a construção da narrativa da série foi criada uma equipa de investigação própria, que reuniu e tratou informação ao longo de 18 meses, durante os quais muita coisa mudou.

No decorrer dos episódios são vários momentos chocantes mostrados sem pudor, numa tentativa de Kosminsky de, como disse aquando do lançamento da série “segurar no espelho e virá-lo para a sociedade, lidando às vezes com assuntos extremamente complicados, mas que são importantes na atualidade”. Para o responsável máximo por “O Estado”, o objetivo de um trabalho como este era mesmo “dar uma visão com mais matizes do assunto e ir um pouco além do retrato de que estas pessoas [que se juntaram ao Daesh] são todas malucas ou psicóticas.” Objetivo cumprido numa das melhores séries deste ano.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jmsalvador@expresso.impresa.pt

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