O cansaço pandémico calha a todos. A minha coluna de ontem tem uma incorreção. Li mal esta peça do DN, e considerei que “127 reações graves” eram mesmo “graves”. Mas não é bem assim; é preciso fazer a destrinça: febre, diarreia e vómitos não são reações graves comparáveis a um internamento por miocardite. Destas 127 reações, temos de olhar para as 15 miocardites; essas, sim, muito graves em jovens e crianças. Portanto, o título do texto de ontem devia ter sido “Porque é que 1 criança infetada por covid é mais importante do que 15 crianças vacinadas contra a covid?”. É uma incorreção que não anula a mensagem central: tal como alertaram diversos pediatras, a vacinação contra a covid em jovens e crianças em Portugal já provocou 15 miocardites. Isto parece-me muito relevante e muito esquecido pelos média, pela DGS e pelo Governo. Tal como me parece relevante a óbvia resistência dos pediatras e de outros médicos à vacinação de crianças. Como é que se avança para a vacinação em massa de crianças sem um consenso claro entre pediatras e médicos?
Vale a pena insistir no tema, porque a Suécia desistiu da vacinação de crianças, invocando para o efeito as razões da carta aberta dos pediatras portugueses liderados por Jorge Amil. Antes que comecem a xingar a “irresponsabilidade” da Suécia, esse país conhecidíssimo por ser irresponsável e por ter péssimas políticas públicas, olhem por favor para a mortalidade geral da Suécia nos últimos dois anos.
Bom, a primeira razão é esta: não vacinamos em picos pandémicos, porque não sabemos se a pessoa que vai receber a vacina não está já infetada naquele momento; isto pode criar sérias complicações, como as miocardites.
Segunda, a covid não é um problema de saúde para as crianças. A existência de um ou dois casos dramáticos não muda essa realidade. Não podemos fazer política a partir de um ou dois casos explorados emocionalmente pelas televisões. Um bebé internado por causa de covid é um drama, mas não é a realidade geral. A covid é um problema de saúde para os mais velhos.
O vírus VSR, sim, é perigoso em crianças e subiu nestes anos devido às máscaras e medidas de distanciamento. Uma reportagem realmente preocupada com os indicadores da realidade é aquela que mostra em pleno verão um pico de infecções VRS em bebés e crianças. Mas como o VRS não é a covid não vemos essa realidade; pelo menos, não a vemos exponenciada e sublinhada.
Terceiro. Estas vacinas não impedem a transmissão do vírus, ou seja, a criança vacinada pode transmitir o vírus à mesma. Então para quê vacinar a criança?
Está criada uma atmosfera estranha, opaca e sufocante que me leva demasiadas vezes a uma sensação desconfortável: a covid transformou os cidadãos e até os poderes, dos políticos aos mediáticos, em “yes man” das farmacêuticas. Como é que se avança para uma vacinação de crianças contra a opinião dos pediatras? O ónus da prova não está nos pediatras, está nas farmacêuticas. Mas a pressa e o medo inverteram a ordem natural das coisas.
As farmacêuticas são empresas que devem atuar, com certeza. Não sou de teorias da conspiração. Mas estamos num momento em que parece que somos todos “yes men” das farmacêuticas, cujos desejos se transformam em ordens políticas através das DGS e dos governos. Ou seja, parece que neste momento não somos governados por governos, parlamentos ou tribunais, mas sim por farmacêuticas, cujas ações e produtos estão a redefinir as fronteiras da liberdade e da cidadania. Estamos a dividir e a segredar cidadãos em vacinados e não vacinados – podemos parar para pensar nesta enormidade?
Além do imenso poder económico, estas empresas têm agora um biopoder quase sagrado sobre a população, sobre a mente da sociedade. E isto é assustador. É assustador darmos tanto poder a um único sector, ainda para mais quando é um sector que tem o potencial para ser destrutivo quando erra ou quando é deliberadamente ganancioso – olhe-se para a tragédia da oxycontin nos EUA.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt