Covid-19. Meio ano a lidar com a doença já permite chegar a consensos sobre como ela se propaga
Fiordaliso
2020, o ano em que o mundo acordou para uma nova e dura realidade: a pandemia global provocada por um novo tipo de coronarírus (SARS-COV-2). Volvidos seis meses, começa a crescer o conhecimento geral relativamente à forma de como as pessoas ficam infetadas
Poder-se-á dizer que o mundo está, atualmente, mais consciente e conhecedor da pandemia que o assola. A forma como se propaga e se contrai o vírus, é agora um assunto mais aprofundado e com uma amostra temporal vísivel de comparação de dados e casos. Segundo os cientistas, não é muito comum contrair a doença através de superfícies contaminadas. Os encontros fugazes entre pessoas no exterior também formam uma amostra muito improvável de espalhar o próprio vírus. No entanto, já se sabe que os maiores culpados são os espaços fechados e as relações inter pessoais por um período longo de tempo. Eventos com uma vasta assistência ou espaços com um défice de ventilação, e onde haja pessoas a falar ou a cantar, maximizam o risco de propagação.
Estas recentes descobertas estão na origem das tomadas de decisão políticas em reabrir espaços comerciais e atividades económicas, com o fim de equilibrar a saúde financeira e económica dos próprios países sem deixar cair a bandeira da proteção individual e social contra a covid-19. Medidas como o uso da máscara em lojas e outros locais, os painéis de acrílico exigidos nos estabelecimentos de atendimento ao público, instalação de bons sistemas de ventilação e a boa prática de deixar as janelas abertas sempre que possível, formam o manual de bons hábitos imposto pelas instâncias governamentais, um pouco por todo o mundo.
SEAN GLADWELL
Dois estudos recentes vieram mostrar que o confinamento em larga escala, a consciência coletiva do 'stay home' ('fique em casa'), assim como a proibição dos ajuntamentos e o fecho dos espaços comerciais, preveniram milhões de infeções e de mortes por todo o mundo. Neste momento, é com esse 'know-how' em carteira que as cidades e os estados podem elaborar estratégias para não permitirem um regresso a um passado recente e permitirem que os números voltem a disparar. Isso traduz-se na implementação de melhores condições de proteção nas casas dos profissionais de saúde e das famílias multigeracionais, que vivem em aglomerado habitacional, muitas das vezes em condições precárias.
Algo importante a reter na transmissão do vírus é o facto de as partículas originadas pelos atos de falar e respirar serem de vários tamanhos e poderem dispersar-se pelas correntes de ar, podendo infetar pessoas que se encontrem próximas. As agências de saúde já vieram autenticar as gotículas respiratórias como as principais culpadas na transmissão da covid-19. Os fluídos podem infetar outras pessoas através do contacto com os olhos, nariz ou boca, mas tendem, na sua maioria, em cair no chão de forma bastante rápida.
artur carvalho
Alguns investigadores defendem que o novo coronavírus também pode ser transmitido por aerossóis, ao serem inalados, ou por pequenas gotículas que flutuam no ar e por lá sobrevivem muito mais tempo do que as gotículas de maior dimensão. Esta forma de transmissão pode ter sido a culpada pelos casos de pessoas infetadas num restaurante em Guangzhou, na China, onde um jantar contaminado terá estado na origem da cadeia. Segundo uma perícia feita ao local, ficou determinado que o sistema de ventilação era deficitário e os exaustores estavam desligados na altura. Os aerossóis com origem nas respiração e na fala dos ocupantes, juntamente com o fluxo de ar proveniente do sistema de ar condicionado, estão na base da teoria da contaminação.
Segundo Yuguo Li, engenheiro e professor na Universidade de Hong Kong e um dos defensores desta análise, "a ventilação apropriada é toda aquela que força o ar em direção ao teto e o bombeia para fora. A não saturação do ar ao permitir a entrada de ar fresco nos espaços diminui a quantidade de vírus e a consequente menor probabilidade de infeção".
Outro fator assenta exposição prolongada, que pode definir-se por estar em contacto sem qualquer proteção e a menos de três metros de distância, num período de 15 minutos ou mais.
Peter Zelei Images
A percentagem de pessoas infetadas, num determinado contexto, pode ser altíssima sempre que estejam reunidas as condições para que tal aconteça. Disso são exemplos os eventos com um número elevado de pessoas e casas ou espaços fechados onde residam ou estejam vários frequentadores ou habitantes em contacto permanente. Estima-se que 10% dos infetados por covid-19 sejam responsáveis por uma taxa de transmissão de até cerca de 80%.
As famílias infetadas registam um intervalo numérico entre os 4,6% e os 19,3%, de acordo com várias investigações. A doença ataca mais as mulheres (27,8%) em detrimento dos outros membros da família. O número de vírus necessários para infetar uma pessoa é desconhecido. No entanto, uma recente investigação publicada no "Journal Nature", deixou algumas pistas: cientistas foram incapazes de manter o vírus vivo, tendo por base um cotonete de garganta ou um mililitro de saliva, com menos de um milhão de cópias de RNA viral.
Thirawatana Phaisalratana / Ey
Todo este conhecimento forma um manual de boas práticas que tem vindo a ser aplicado e, ou, reajustado. O procedimento normal para alguém que teste positivo neste momento é a quarentena em casa. Alguns países providenciaram casas temporárias de forma gratuita para quem precisar, assim como assistência social. Desta forma, evita-se o contágio pelos restantes familiares. O uso da máscara, a boa higienização das mãos e o respeito pela distância social continuam a ser os pilares base da contenção do novo coronavírus.