Covid-19 pode devastar os pulmões ao ponto de os deixar irreconhecíveis
Um investigador que examinou dezenas de cadáveres de vítimas da doença diz que os efeitos são diferentes daqueles que são provocados por outras doenças respiratórias
Um investigador que examinou dezenas de cadáveres de vítimas da doença diz que os efeitos são diferentes daqueles que são provocados por outras doenças respiratórias
Jornalista
Um professor italiano ligado ao King's College, em Londres, diz que a covid-19 tem efeitos muito mais destrutivos sobre os pulmões do que a gripe, a pneumonia ou doenças causadas por outros coronavírus que não o Sars-Cov-2. Ao falar perante um comité da Câmara dos Lordes, Mauro Giacca explicou que o vírus, nalguns casos, destrói a arquitetura dos pulmões ao ponto de os tornar irreconhecíveis.
Giacca começou por explicar que aquilo que descobriu ainda não aparece na literatura porque não tem havido autópsias pelo mundo fora. No seu caso, como normalmente o seu trabalho envolve reconstrução cardíaca, conseguiu ter acesso a dezenas de cadáveres de pacientes que morreram de covid-19, muitos deles após trinta ou quarenta dias a lutar contra a doença.
"O que se descobre nos pulmões de pessoas que ficarem com a doença mais de um mês antes de morrerem é algo completamente diferente da pneumonia normal, da gripe ou mesmo do Sars-Cov-1", disse. "Vê-se trombose maciça. Há uma disrupção completa da arquitetura pulmonar. A certa luz, nem sequer se consegue distinguir o que costumava ser um pulmão".
Referiu duas diferenças surpreendentes em relação ao que seria de esperar. Uma diz respeito à ideia "de que há uma primeira fase em que temos replicação viral e a seguir o vírus de alguma forma tem menos importância e vem uma segunda fase onde há hiperinflamação, tempestade de citoquinas e por aí adiante. Isso é verdade clinicamente mas não virologicamente. Há uma persistência maciça do vírus nas células".
A outra descoberta foi a de "uma grande quantidade de células muito grandes fundidas que são positivas em vírus, com núcleos que chegam a ser dez, quinze", disse. "Estou convencido que isto explica a patologia única da covid-19. Isto não é uma doença provocada por um vírus que mata células, o que tem profundas implicações para a terapia".
A conclusão, segundo afirmou, é a de que as terapias anti-virais podem ser eficazes numa fase inicial da doença, mas é pouco provável que curem os doentes. Outra implicação é a de que a doença, mesmo em pessoas que recuperam, pode deixar sequelas graves nos pulmões ao longo do tempo.
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