“Até à data, só tenho um lay-off: na Plural, porque tenho uma verdadeira paragem de atividade nas produções das novelas”, adiantou esta segunda-feira aos jornalistas Luís Cabral, à saída da audiência com o Presidente da República. “À semelhança de todas as produtoras de ficção, estamos parados.”
Questionado pelo Expresso, por email, sobre a data de início do lay-off (medida do Governo de apoio às empresas que prevê redução de horário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho) e o número de pessoas abrangidas, o presidente executivo da Media Capital não quer fazer qualquer comentário. “Esses são assuntos de gestão da empresa que não costumamos comentar ou partilhar publicamente.”
Esta é mais uma empresa de comunicação social que recorreu a este regime, depois de a Global Media (dona do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF, entre outros), o Jornal Económico (que tem como acionista o grupo Bel, que fez uma proposta para a compra da dona da TVI), o jornal “A Bola” e o grupo Impala (Nova Gente, TV7 Dias, entre outros) terem avançado para o lay-off. Segundo divulgou recentemente a Associação Portuguesa de Imprensa, pelo menos cerca de 50 jornais avançaram para este regime.
Luís Cabral reconhece que o impacto da crise provocada pelo novo coronavírus na dona da TVI e de rádios como a Comercial “está a ser enorme” e que, todos os dias, o grupo está “a acompanhar os acontecimentos e a fazer ajustes nas empresas e nos conteúdos”, com vista a ultrapassar “este período terrível”. As declarações ao Expresso estão em linha com aquilo que disse aos jornalistas à margem da audiência desta segunda-feira, quando recordou que a atual crise obriga a “um controlo muito grande de custos, a uma gestão muito racional e equilibrada”. “Tenho um negócio que não posso parar, a comunicação social não pode parar”, acrescentou.
Recorde-se que, depois do negócio falhado com a Cofina e da intenção de compra de Marco Galinha, Apollo e Prozis, o Expresso noticiou que uma percentagem de 30,22% da Media Capital deverá ser comprada por Mário Ferreira, dono da empresa turística Douro Azul (que, aliás, já se tinha associado à Cofina na proposta abortada para comprar a dona da TVI). Sobre este ponto Luís Cabral também não se pronuncia, deixando o tema para os acionistas: “a mim cabe-me apenas fazer a gestão das empresas da Media Capital”.
Sobre a medida do Governo de apoio aos media, que passa pela compra antecipada de publicidade institucional no montante de 15 milhões de euros, o presidente executivo da Media Capital considera-a “uma ajuda importantíssima e um sinal de que o Governo e o Presidente da República reconhecem a excecionalidade deste sector”. Mas, horas antes, tinha referido aos jornalistas que, embora estivesse agradecido, este “apoio governamental não é suficiente”, uma vez que “a quebra que sentimos é superior ao apoio que vamos ter”. E relaçou que este apoio ainda não chegou às empresas, apesar de acreditar que deverá “chegar rapidamente”.
Luís Cabral diz ainda ao Expresso que a audiência com Marcelo Rebelo de Sousa – “um grande conhecedor da dinâmica do sector, pelo seu passado nos media”, e “das nossas necessidades” – serviu para transmitir “a preocupação de que a indústria de media precisa, de facto, de ser reconhecida como tal, pois tem um papel importantíssimo na sociedade informando, aconselhando, tranquilizando e entretendo os portugueses”. E para realçar que “é preciso que seja dado apoio à produção nacional de ficção e entretenimento, assegurando postos de trabalho bem como a nossa imagem no mundo”, e que a informação “precisa de empresas saudáveis financeiramente, por esse é o único garante de independência do jornalismo numa sociedade democrática”.
O Presidente da República está esta tarde a ouvir vários grupos de comunicação social sobre a crise que vive o sector.
À semelhança de Luís Cabral, Francisco Pedro Balsemão, presidente da Impresa (dona do Expresso), considera que o apoio do Governo “é um valor que fica aquém das expetativas” do grupo. Já Gonçalo Reis, presidente da RTP, afirma que – apesar da televisão pública não estar abrangida por esta medida – é “perfeitamente razoável, equilibrado e expectável que um sector com a relevância da comunicação social e da imprensa seja alvo de programas transparentes e com critério”