Covid-19. Reclusa que deu à luz ligada a um ventilador morre semanas depois
Andrea Circle Bear, uma nativo-americana, pertencia a um grupo de risco e jamais devia ter sido encarcerada, dizem vários críticos
Andrea Circle Bear, uma nativo-americana, pertencia a um grupo de risco e jamais devia ter sido encarcerada, dizem vários críticos
Jornalista
Morreu no Texas uma reclusa que tinha dado à luz um bebé quando se encontrava ligada a um ventilador. É o trigésimo caso registado de morte de um preso por efeito da covid-19 nos Estados Unidos e assume características especialmente inquietantes, pois a mulher já estava num estádio avançado da gravidez quando ingressou na cadeia.
Andrea Circle Bear, uma nativo-americana de 30 anos, foi condenada em janeiro a 26 meses de cadeia por distribuir anfetaminas a partir da Reserva Índia Sioux Cheyenne River. As autoridades apanharam-na depois de ela ter vendido a droga a um informador.
Dado que a gravidez a colocava num grupo de alto risco, Andrea Bear devia ter ido para confinamento em casa, como tem acontecido a outros detidos. Mas só foi posta de quarentena em março, quando a transferiram de uma cadeia no Dakota do Sul para um centro médico federal no Texas.
A 28 de março, Circle Bear foi levada ao hospital, regressando à cadeia no mesmo dia. Três dias depois, perante sintomas como febre e tosse seca, enviaram-na de novo para o hospital e dessa vez ficou internada. O bebé nasceu no dia seguinte, por cesariana. Era tarde para a mãe, que foi diagnosticada com a doença três dias depois.
Circle Bear passou as últimas semanas ligada ao ventilador, a lutar pela vida. Na terça-feira, a luta chegou ao fim. O Departamento de Justiça e os serviços prisionais são agora acusados pela Justice Action Network, uma associação de assuntos de justiça criminal, de terem "responsabilidade direta" na morte da mulher, que contraiu o vírus na cadeia.
Numa declaração, a presidente do grupo disse: "O procurador-geral Barr e o diretor Carvajal devem explicar a crueldade e as falhas sistémicas ao longo da cadeia de comando que levaram à morte evitável de uma jovem mãe. Em que mundo deve uma mulher grávida ser encarcerada, em especial no meio de um surto de um vírus, por uma violação técnica raramente alvo de acusação?".
O presidente de um grupo que luta contra as sentenças mínimas, Kevin Ring, reforçou a crítica numa declaração citada pelo "New York Times": "Nem todas as mortes na prisão são evitáveis, mas a de Andrea Circle Bear certamente parece ter sido. Ela não devia ter estado num prisão federal dadas as circunstâncias. A sua morte é uma vergonha nacional, e espero que um grito de alerta".
A crítica foi, entretanto, secundada por vários congressistas. Os visados não responderam, dizendo apenas que Circle Bear tinha uma condição médica anterior que a punha em risco de desenvolver sintomas graves de covid-19. Quanto ao bebé, cujo sexo não foi revelado, sobreviveu e ficou entregue à família da falecida.
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