Da banca à energia passando pelos seguros, esta semana foram várias as grandes empresas a anunciar que estão a antecipar pagamentos aos seus fornecedores e parceiros. Esta sexta-feira, foi a vez da Tranquilidade, agora integrada no grupo italiano Generali, avançar com uma medida deste género.
Em comunicado, o grupo em Portugal indicou a decisão de “avançar com um programa de antecipação de pagamentos que ascende a 50 milhões de euros e que tem como objetivo garantir maior liquidez a agentes, fornecedores e prestadores de saúde e apoiar os agentes na gestão da sua carteira de seguros”. Por mês, a companhia, costuma ter gastos mensais de 100 milhões de euros.
No que diz respeito aos clientes, os agentes da Tranquilidade também podem, agora, agilizar o “alargamento dos prazos de anulação de apólices, o ajustamento das regras de subscrição dos seguros e o alargamento de garantias”, a par do “alargamento da cobertura de acidentes de trabalho para os colaboradores das empresas em regime de teletrabalho, bem como para os restaurantes que tenham optado por manter-se em funcionamento em regime de entrega ao domicílio”.
Mas recuando ao pagamento a fornecedores, a Tranquilidade/Generali junta-se agora a um conjunto de empresas que tem vindo a anunciar que está a pagar, em antecipação ou antes do prazo habitual, aos seus fornecedores.
Os bancos estiveram em destaque neste campo - são respostas de um sector que tem vindo a ser pressionado para ajudar a economia, depois de anos em que foi ajudado pelo Estado, e que tem agora tentado passar a ideia de que, além das sistemas de apoio criados pelo Governo (moratória e linhas de crédito), está também a tomar outras decisões favoráveis ao país.
O Santander anunciou ontem que iria começar a pagar a pronto pagamento aos seus fornecedores “para ajudar a tesouraria das empresas nesta fase difícil”.
Não está sozinho: “O Novo Banco, atendendo ao atual contexto de crise decorrente da Covid-19, decidiu que todos os seus fornecedores passam a receber as suas faturas imediatamente após boa conferência e lançamento das mesmas por parte das respetivas estruturas compradoras do Grupo Novo Banco”. O banco diz que, atualmente, paga em média em 30 dias.
Antes destes dois anúncios, já o BCP tinha feito outro, ainda que mais conservador. “Cientes das dificuldades de tesouraria que muitos fornecedores enfrentam neste momento, o Millennium bcp decidiu antecipar o pagamento de faturas dos atuais 30 dias para apenas uma semana. O novo prazo conta a partir da data em que a fatura é registada”.
Neste caso, o banco tem números: “O Millennium bcp tem, neste momento, um total de mais de 6500 fornecedores, que originam um número médio mensal superior a 10 mil faturas e um valor médio mensal de cerca de 37 milhões de euros”, apontava o seu comunicado.
Fora da banca, a EDP anunciou, sábado passado, que iria “antecipar para abril o pagamento de mais de 30 milhões de euros que cerca de 1.200 fornecedores – sobretudo pequenos negócios e pequenas e médias empresas (PME) – só deveriam receber em maio”. “Esta medida pretende ser um apoio no atual contexto de pandemia para garantir que essas empresas têm liquidez para pagar salários e manter a sua atividade, assim como os postos de trabalho”, justificou a elétrica.
Ao pagar já a fornecedores, estas empresas apoiam a manutenção do trabalho dessas empresas, conseguindo assegurar também que a sua própria cadeia de valor não é perdida (evitando que, elas próprias, fiquem sem algum produto ou serviço essencial ao seu funcionamento).
Estas são decisões tomadas quando até já foi colocado em cima da mesa - pela Associação Comercial do Porto - que, no âmbito das medidas extraordinárias de apoio à economia, o Estado devia estar a liquidar as suas dívidas perante os fornecedores.