Da Terra à Mesa

Mais saudável e natural, a salicórnia é o sal do futuro

Mais saudável e natural, a salicórnia é o sal do futuro

Carnuda e crocante, esta planta halófita tem muitas propriedades benéficas para a saúde. Pode ser consumida fresca ou desidratada e é cada vez mais usada como substituto do sal, conta Hugo Mariano, da Salivitae, em Portimão, empresa produtora de salicórnia biológica em estufa e ao ar livre. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante

Apontada como um alimento do futuro, a salicórnia é uma planta halófita, ou seja, tolerante ao sal, cada vez mais procurada pelos consumidores. Foi com o foco nas suas inúmeras propriedades e atentos à oportunidade dada pelo PDR 2020 que Hugo Mariano e Ricardo Coelho começaram, em 2014, a dar os primeiros passos para a fundação da Salivitae, em Portimão, uma “empresa algarvia de biotecnologia focada⁣⁣ na produção de salicórnia biológica”, como se lê no site oficial. “A minha esposa teve um cancro e eu andava à procura de superalimentos. Começámos a falar sobre a salicórnia e fizemos o projecto, pioneiro a nível de halófitas, para o PDR 2020. Tinha 5000 metros quadrados de estufa e o objectivo sempre foi a exportação, porque o mercado português era pequeno e um pouco conservador”, explica Hugo Mariano.

Salicórnia

Hoje em dia, defende que o consumidor nacional já tem outra “perspectiva e sabedoria sobre o que é a salicórnia”, mas o processo tem sido gradual. A salicórnia fresca, aromática e crocante, deve ser usada para saladas, uma vez que tem 92% de água e tendência para a perder quando é cozinhada. Já o sal verde, feito com salicórnia desidratada, mais salgado e intenso, é utilizado para temperar e “um verdadeiro suplemento mineral e vitamínico”, porque absorve todas as propriedades pelas suas raízes.

A salicórnia é uma planta medicinal com características antioxidantes, anti-inflamatórias e anti-cancerígenas que contribui também para a prevenção de problemas de hipertensão arterial. “Temos uma parceria muito interessante com o Centro Espanhol de Combate ao AVC e, neste momento, já há muita gente a tomar salicórnia em comprimido porque, em média, reduz o tempo de recuperação de um AVC em 70%.”

A produção da Salvitae faz-se em estufa e ao ar livre

Biológica e sustentável

Em 2016 começaram uma plantação intensiva, embora biológica, de salicórnia em estufa e no ano seguinte arrancaram com as vendas na Holanda, em França e na Bélgica, os primeiros países para onde começaram a exportar. E sempre com dois objetivos específicos: por um lado, ter uma produção com certificação biológica, “o que com sal é difícil, porque normalmente não se pode usar sal nas culturas”, elucida, acrescentando que não usam sal, “mas terrenos que têm salinidade”; por outro, garantir a maior sustentabilidade possível no projeto. “Toda a energia da estufa tem origem nos nossos painéis fotovoltaicos e o que não é usado da salicórnia é aproveitado. Quanto mais se deixa lá ficar, mais fibra tem e menos interessante se torna para o consumo humano.”

Assim, as raízes servem para ração animal, em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e com o Instituto de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), e o resto da planta é desidratada com o desidratador solar e moída para o sal verde. Deste modo, aplica-se no objetivo da PAC de promover o desenvolvimento sustentável e uma gestão eficiente de recursos naturais como a água, os solos e o ar no período compreendido entre 2023 e 2027.

Salvitae

Com uma produção anual de cerca de 35 toneladas, “mas com capacidade para mais”, a Salivitae já tem alguns terrenos ao ar livre. “Ajudamos agricultores que têm terrenos com alguma salinidade a torná-los rentáveis e às vezes funcionamos como conselheiros para pessoas que produzem outras halófitas”, conta Hugo. No entanto, há diferenças entre a que é produzida ao ar livre e a que é produzida em estufa. “A salicórnia, ao ar livre, tem mais fibra, é menos crocante, menos verde e muito mais susceptível a pragas; a de estufa praticamente não tem pragas, porque é tudo muito mais controlado e o terreno é mais salino”, elabora.

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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