Os solos arenosos e os ares do Atlântico dão vida aos vinhos de Colares
Minerais, frescos e com acidez, os vinhos de Colares, em Sintra, têm Denominação de Origem Controlada e uma marca profunda na história dos vinhos nacionais. Diogo Baeta, da Adega Viúva Gomes, fala de resistência, tendências e desafios constantes. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante
Os vinhos de Colares, região demarcada desde 1908, “são muito importantes no panorama vitícola em Portugal, mas não há muita gente que os conheça”. Quem o diz é Diogo Baeta, 34 anos, da Adega Viúva Gomes, produtora. “A história da minha família acaba por se ligar à história da marca. Sou a quinta geração a trabalhar neste negócio. A minha família tem vinhos em Sintra desde 1898. Adquiriu a Viúva Gomes, criada por uma família de Almoçageme, para acrescentar espaço de estágio, de armazenamento e de produção ao negócio que já tinha”, elabora.
Durante alguns anos, a Viúva Gomes foi “apenas adega de estágios e engarrafamentos” e só mais recentemente a empresa foi separada. Em 2013, “o meu pai ficou à frente do negócio, só focado na parte da Viúva Gomes”. Diogo juntou-se, a tempo inteiro, em 2017, e hoje em dia é o responsável pela produção, numa fase em que “o mercado volta a apontar as agulhas para os vinhos mais atlânticos, mais leves, frescos e com acidez”.
Adega Viúva Gomes
A resistência à filoxera e a adaptabilidade à mesa
“Colares foi a única região, por inteiro, que sobreviveu, em Portugal, à filoxera, um inseto que existe no solo e que ataca as raízes da vinha”, conta. “Uma parte das vinhas estão plantadas em solos arenosos, que constituem uma resistência e proteção naturais contra a filoxera por causa da profundidade das raízes”, explica. “Durante muito tempo, Colares foi a única região portuguesa a ter vinho e ninguém percebia porquê.” Mais tarde descobriu-se que eram os solos de areia os responsáveis pela sua sobrevivência e continua, ainda hoje, a “ter uma plantação tradicional, em pé-franco”, explica Diogo. E o que é que isto significa? Que plantam a videira diretamente no solo, sobre as próprias raízes, sem recorrer a porta-enxerto americano, hábito comum desde o ataque da filoxera, uma vez que as videiras americanas resistem ao seu ataque. Esta é uma característica essencial para produzir os vinhos de Colares e para os mesmos terem direito à Denominação de Origem, assim como a obrigatoriedade de “usar a casta Ramisco para os vinhos tintos, a Malvasia de Colares para os brancos e uma percentagem mínima de 80% nos blends”, refere. A área de produção compreende as freguesias de Colares, São Martinho e São João das Lampas, do concelho de Sintra.
Vinhos de Colares
JOSE SARMENTO MATOS
Como estão dentro da região de Lisboa, na sub-região de Colares, tanto podem produzir vinhos DOC Colares como Regionais de Lisboa. “Temos terrenos de areia e terrenos argilo-calcários e tudo o que se planta nesses terrenos não têm direito à Denominação de Origem Colares”, explica. Contribuir para a proteção da biodiversidade, melhorar os serviços ligados aos ecossistemas e preservar os habitats e as paisagens são medidas da PAC para o período compreendido entre 2023-2027. Mas “é um bocadinho estranho para alguns consumidores, porque são desta região, mas umas têm direito à denominação e outras não”, admite.
Vinho Viúva Gomes
Na boca, falamos de vinho com “muita acidez e pouca fruta”. Os tintos Viúva Gomes destacam-se por serem “pouco encorpados, frescos, abertos na cor e com pouca fruta. Os brancos têm muita acidez, muito sal e são vinhos que vão buscar um bocadinho de pó de areia, pó de pedra, com pouca fruta, pouco exuberantes, mas de alguma forma muito complexos”, elucida Diogo Baeta. Os primeiros harmonizam “com carnes de caça, mais leves, como a perdiz, com o Leitão de Negrais, um prato típico da nossa região, e com queijadas de Sintra”. Os brancos aguentam bem “peixes gordos e marisco” graças à sua complexidade.
Adega Viúva Gomes
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
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