Da Terra à Mesa

Conservar a tradição com sardinha, cavala e carapau

Conservar a tradição com sardinha, cavala e carapau
João Pedro Marnoto|MediaUtopia

A indústria conserveira é uma das mais icónicas em Portugal. Em Matosinhos, a Pinhais continua, há mais de 100 anos, a manter-se fiel ao método de produção artesanal, a que é possível assistir nas visitas ao Museu-Vivo. O peixe fresco e as receitas caseiras estão também na base desta história de sucesso. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

A história da indústria conserveira é também a história “de forte empenho e enorme resiliência, de valores únicos e tradições vivas” da Pinhais, centenária marca nascida em Matosinhos, a única fábrica de conservas em Portugal que mantém o método de produção 100% artesanal.

Conservas Pinhais
João Pedro Marnoto|MediaUtopia

No final dos anos 80, quando a indústria se desenvolve em Portugal, “com a instalação de inúmeras fábricas de norte a sul do país”, muitos pescadores de Espinho “migraram para Matosinhos, onde o início da construção do porto de abrigo de Leixões trazia a promessa de uma vida melhor”, conta Patrícia Sousa, directora de marketing da Pinhais. Entre eles estavam António e Manuel Pinhal, irmãos que fundaram a Pinhal & Irmão, como negociadores de pescado. “Percebendo a carência de peixe na dieta do interior do país, iniciam um negócio de salga e distribuição de pescado. O sucesso é notado pelo banqueiro Luís Alves Silva Rios, que os desafia para a criação de uma fábrica de conservas”, acrescenta. Em 1920 nasce a sociedade Pinhais & C.ª, Lda., com Luís Sousa Ferreira como quarto sócio.

Hoje, a sardinha continua a ser a estrela da companhia, seguindo-se a cavala e o carapau, “peixes pequenos, mas de enorme sabor”. Em Portugal, preferem a sardinha pura em azeite; nos mercados além-fronteiras, que representam “mais de 95% das vendas”, como Áustria e Estados Unidos da América, a eleita é a sardinha picante da NURI.

Mas este peixe não está disponível durante todo o ano. “Existe uma quota de pesca da sardinha para garantir a sustentabilidade da espécie a longo prazo”, explica. Contribuir para a proteção da biodiversidade, melhorar os serviços ligados aos ecossistemas e preservar os habitats e as paisagens é, também, um dos objetivos da PAC para o período compreendido entre 2023 e 2027.

Museu das Conservas Pinhais
ALEXANDRA TEOFILO

Saberes e sabores que atravessam gerações

Depois de calamidades como a Segunda Guerra Mundial e o colapso de grande parte da indústria conserveira portuguesa, a Pinhais ainda resiste e a indústria conserveira é novamente uma tendência dentro e fora de portas. O segredo para o sucesso da marca, garantem, reside nas pessoas e nos seus valores. “É frequente as relações com os nossos colaboradores, fornecedores e clientes prolongarem-se por décadas e por gerações.”

Para a aquisição do seu bem mais precioso, o peixe, a Pinhais destaca para a lota compradores da maior confiança. “Actualmente, a compra de todo o peixe é feita em lota à entidade Doca Pesca em regime de leilão invertido pelas nossas compradoras D. Emília e D. Paula, que todos os dias seguem rumo à Lota de Matosinhos.”

Também o processo de produção, totalmente artesanal, se mantém inalterado desde 1920. “É um processo elaborado e pormenorizado, que requer quase em exclusivo o trabalho manual”, conta Patrícia. “Cada peixe passa pelo menos por uma trintena de mãos antes de a tampa de cada lata ser, por fim, fechada.”

Conservas Pinhais
João Pedro Marnoto|MediaUtopia

Cem anos sem igual e um museu com vida

Como forma de celebrar a história da Pinhais, foi inaugurado, há cerca de um ano, o Museu-Vivo “Conservas Pinhais Factory Tour”, onde os visitantes são convidados a fazer uma verdadeira viagem no tempo pela fábrica, classificada em 2020 como edifício de Interesse Municipal. É “entrar por uma porta centenária e respirar a realidade de uma fábrica de conservas de sardinha que mantém vivas as suas origens, em toda a sua produção. É sentir a história em cada toque, em cada cheiro e, claro, em cada dentada das nossas conservas”, revela.

Assistir à fábrica em laboração, embrulhar a própria lata, usando as técnicas mais artesanais, e degustar os produtos no Can Tin Café são algumas das atividades incluídas na visita.

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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