Fresca, seca ou em calda, a ameixa é rainha no Alto Alentejo
A Ameixa d’Elvas é um produto DOP que pertence à variedade Rainha Cláudia, introduzida pelos franceses no Alentejo. Muito doce e adaptada ao terroir local, pode ser consumida fresca, seca (a mais difícil de encontrar) ou em calda, servindo de acompanhamento a alguns doces regionais, como a sericaia. Conheça a sua história. “Da terra à mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
A produção da Ameixa d’Elvas DOP, da variedade Rainha Cláudia, é circunscrita a alguns concelhos dos distritos de Évora e Portalegre. “Embora não seja possível calcular a data da introdução da ameixeira ‘Rainha Cláudia' na região do Alto Alentejo, não restam dúvidas da origem francesa do material vegetal inicial, nem do fato da cultura se ter expandido a partir da zona de Elvas para as regiões vizinhas. A prová-lo está o nome de ‘ameixa de França', ainda hoje utilizado em Elvas para designar a variedade”, lê-se no documento de pedido de registo da Denominação de Origem Protegida.
A denominação DOP identifica um produto originário de um local ou região determinados, cuja qualidade ou características se devam essencial ou exclusivamente a um meio geográfico específico (incluindo os seus fatores naturais e humanos), e cujas fases de produção tenham todas lugar na área geográfica delimitada. É um dos regimes de proteção regulamentados pela União Europeia que assim garante a manutenção da biodiversidade e apoia a sustentabilidade das comunidades agrícolas, garantindo valor ao produto e segurança ao respetivo produtor.
Vitor Gameiro, responsável geral da Fruteco, uma “sociedade comercial por quotas, com vários agricultores”, que é “entidade gestora da DOP”, conta que a empresa surgiu formalmente em 1994, em resultado das iniciativas de João Manuel Mota Barroso, “professor na Universidade de Évora que, na altura, estava a iniciar a atividade como agricultor com as terras da família do seu pai”. Aliou, por um lado, “a paixão pela investigação e pela academia” e, por outro, “o gosto por produzir”. Mais tarde, juntaram-se outros ao projeto e começaram a colocar no mercado “a ameixa d’Elvas para consumo em fresco”. Paralelamente, João Barroso montou “uma empresa que faz a confitagem da ameixa, a Confibor, em Estremoz”.
Neste momento, a Fruteco, que aglomera pouco mais de três dezenas de produtores, “trabalha e vende a Rainha Cláudia certificada, que se transforma em Ameixa d’Elvas fresca”, e a Confibor, uma “empresa amiga”, que recebe a matéria-prima, “confita e vende ameixa DOP certificada”. A ameixa fresca é vendida para o retalho e a confitada, para a hotelaria e restauração. O volume, esse, “é muito superior no estado fresco”, adianta. Apenas “entre 5% a 10% é o que vai para confitar”.
Fábrica Museu da Ameixa
Sua alteza aromática, crocante e equilibrada Nesta região, “a floração acontece normalmente na primeira semana de abril” e a colheita decorre “desde o final de julho até ao dia 5 ou 10 de agosto”. Com alguma conservação em frio, pode estar à venda “até meio ou final do mês de agosto”, explica Vitor. Falamos de uma ameixa pequena com uma “polpa amarela crocante, verde por fora, aromática” e com um equilíbrio entre doçura e acidez “muito particular”. Mais: “das ameixas que são atualmente comercializadas, não há nenhuma que chegue perto do teor de açúcar que esta variedade tem”. Segundo Vitor, “o que está estabelecido em caderno de encargos é 17 de brix [escala numérica utilizada para determinar a quantidade de açúcar] como mínimo” e esta variedade está normalmente “acima dos 20” e, por vezes, chega aos 25. Com a produção circunscrita “aos concelhos de Alandroal, Borba, Estremoz e Vila Viçosa, no distrito de Évora, e aos concelhos de Campo Maior, Elvas, Monforte e Sousel, no distrito de Portalegre”, conforme indicação da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, adaptou-se muito bem ao terroir da região. “Temos um conjunto de solos argilo-calcários, esta temperatura de verão, e ela adaptou-se e gosta de cá estar”, remata Vitor.
Fábrica Museu da Ameixa
A fábrica mais antiga também é um museu O nome não deixa margem para dúvidas. A Fábrica Museu da Ameixa, antiga Frutas Doces, “é a mais antiga e única fábrica de ameixas de Elvas a laborar dentro do perímetro da cidade”, de acordo com o site oficial. “A fábrica tem mais de 100 anos e foi fundada pela família Candeias”, explica José Fonseca, um dos responsáveis pela sociedade Sereno & Fonseca, proprietária da empresa desde 2017.
O processo, por sua vez, mantém-se inalterado desde a fundação. Continua a ser feito de forma artesanal e em tachos de cobre, onde a fruta é cozida em água. Depois de escorrida, é mergulhada várias vezes em caldas de açúcar. No museu, onde é contada a história da ameixa, é possível “ver os utensílios que são usados, da apanha à transformação” e visitar os armazéns onde a fruta é armazenada. Na época de produção da fruta em calda, durante os meses de verão, também se pode assistir ao processo.
Sereno Fonseca - Indústria da Ameixa
“Da terra à mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.
A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.
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