Da Terra à Mesa

Na ilha Graciosa cultiva-se alho certificado, mas quase desconhecido

Alho da Graciosa
Alho da Graciosa
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Cultivado na ilha que lhe dá nome, o Alho da Graciosa tem, desde 2021, Indicação Geográfica Protegida (IGP). Distingue-se pelo seu paladar “intenso” e pelas suas propriedades benéficas. Para João Picanço, presidente da Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha da Graciosa, conhecer a sua qualidade é fundamental. “Da terra à mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

A atual Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha da Graciosa foi fundada em 1958 e “fez, pela primeira vez, vinho em 1962”. A certa altura, “as uvas eram poucas e necessitávamos de umas obras grandes”, conta João Picanço, presidente desde 2004, e o foco de interesse da associação estendeu-se a outros produtos. “Aí surge a entrada do alho para ajudar a desenvolver o projeto”, bem como da meloa, do mel e de outros produtos locais.

Isto porque “a ilha da Graciosa sempre foi famosa por ser produtiva e fornecia normalmente o alho, o feijão, as favas, o tremoço, para a Terceira, São Jorge, Pico e Faial, o chamado grupo central”, conta. Segundo a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, “o alho implementou-se com sucesso na ilha Graciosa desde a chegada dos primeiros povoadores, no início do século XV, devido às condições edafoclimáticas propícias ao seu cultivo”.

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Atualmente, os produtores são, “no máximo, duas dezenas” e “aqueles que são mais antigos gostam do Alho da Graciosa – quem gosta mesmo, vai à procura”. Contudo, para as novas gerações, habituadas a comprar em grandes superfícies, “alho é alho” e “isso é que confunde as coisas”. Na origem da problemática podem estar a “diferença de preço” e a “falta de conhecimento da qualidade", esclarece.

Mas o registo pela União Europeia, em 2021, como produto com IGP (Indicação Geográfica Protegida), tem ajudado ao aumento da procura, exclusivamente na Graciosa e outras ilhas dos Açores, onde é comercializado. No entanto, “é uma coisa que dá o seu trabalho”, afirma João. Antigamente, “havia a tradição aqui de se venderem réstias. Uma réstia tem 80 cabeças. Agora, as pessoas mais modernas não compram réstias. Compram quatro ou cinco cabeças para uma semana.”

A necessidades de melhorar os habitats associados aos sistemas agrícolas para promover o estado de conservação da biodiversidade, de contrariar o abandono e melhorar a sustentabilidade ambiental estão na mira do programa nacional da Política Agrícola Comum (PAC), especialmente no que concerne aos próximos quatro anos. Em Portugal, expressa-se através de apoios que visam preservar as paisagens agrícolas tradicionais apoiando quem promove a biodiversidade e também a manutenção de produtos endógenos, como é o caso do Alho da Graciosa, através da certificação IGP. Embora não implique apoios financeiros diretos, a certificação protege o produto, os produtores e os modos de produção.

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Intenso, nutritivo e a estrela em pratos tradicionais

“O Alho da Graciosa é um alho de textura firme e macia”, começa por explicar. O sabor “intenso” e o cheiro e intensidade “médias” também são identitários deste produto que tem “a cabeça superior a dois centímetros” e se distingue pelas cores vermelha e rosa.

É muito rico em “zinco, ferro, magnésio e alicina”, uma substância com poderosas características antioxidantes, acredita João, graças às “características da nossa terra”. Diz até que “um dente de Alho da Graciosa tempera tanto como uma cabeça de outro alho qualquer”.

“O alho deve ser semeado entre dezembro e fevereiro. Há até quem diga que pelo Entrudo é que o alho é cabeçudo. Depois, é apanhado entre junho e julho. Seca-se, prepara-se, vende-se e tiram-se as melhores sementes para semear outra vez” no final do ano”, explica João Picanço. E, “de geração em geração, o Alho da Graciosa tem sido melhorado, pois os produtores guardam, para propagação, os melhores exemplares e aqueles que preservam as principais características, como a cor e o tamanho”, acrescenta a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.

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Sabor suave

Ao olfato, os dentes do Alho da Graciosa distinguem-se por um aroma de intensidade média/baixa, mesmo sem serem esmagados. Do ponto de vista gustativo, apresenta sabor de intensidade alta, muito agradável e com pouca persistência. À mesa, é indispensável em alguns dos pratos mais típicos dos Açores, como “a molhanga, para acompanhar peixe fresco, o molho à pescador, a típica linguiça da Graciosa e lapas grelhadas”, lê-se no Caderno de Especificações.

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“Da terra à mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

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