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Amor e música clássica: segredos de um restaurante de culto na Guarda

Amor e música clássica: segredos de um restaurante de culto na Guarda

Maria Fernanda Castro, na cozinha, e Luís Castro, na sala são o coração e a alma de um pequeno restaurante que, ao longo dos anos, se tornou num local de culto no concelho da Guarda. A paragem é feita numa casa de pedra no centro de Valhelhas, para descobrir os tesouros do Vallécula, distinguido com o prémio “Mérito 20 Anos”, no Guia Boa Cama Boa Mesa 2023

Vallécula, designação dada a Valhelhas aquando da ocupação romana na Guarda, é também nome de uma referência na arte de bem comer - e ser recebido – na pequena e simpática aldeia, a 30 minutos da Guarda e conhecida pela refrescante praia fluvial. Localizado no Largo do Pelourinho, bem no centro da aldeia, o Vallécula conta já com uma longa história de 22 anos, sempre “na mão” dos atuais proprietários: Luís Castro, que na sala recebe e aconselha com profissionalismo e elegância, e Maria Fernanda Castro, a mulher, que na cozinha eleva o receituário e os produtos regionais.

A excelência com que o espaço iniciou a atividade - e soube manter ao longo do tempo -, faz com que tenha lugar cativo e ininterrupto no guia Boa Cama Boa Mesa desde a primeira edição, já lá vão duas décadas. De lá para cá, pode dizer-se que foram mínimas as alterações efetuadas. Afinal, “em equipa que vence, não se mexe”. Não fosse a música ambiente, de bom gosto, que soa baixinho na sala, seria possível alcançar a melodia que se esconde nos sons da cozinha: música clássica, o género preferido de Maria Fernanda. “Adoro cozinhar e adoro ouvir música clássica. Então, porque não fazer as duas coisas ao mesmo tempo? Algumas pessoas quando chegam à cozinha acham estranho, não estão à espera, mas é o meu gosto”, explica sem rodeios.

Restaurante Vallécula
DR

Ao longo destes 22 anos, o espaço, uma antiga casa de xisto recuperada, onde se mantém a pedra conjugada com a madeira, tem vindo a sofrer apenas ligeiras alterações. Na decoração, muito acolhedora e familiar, muda somente a cor das paredes, atualmente um amarelo a puxar para o torrado. Na ementa aplica-se o mesmo princípio: há alguns pratos novos, mas, sobretudo, o aperfeiçoamento dos já existentes, conforme explica Maria Fernanda: “Os pratos que tinha quando abri, são quase os mesmos que tenho atualmente, só que evoluíram. Por exemplo, percebi que pôr vinho e sal no galo dá mais cor à carne; aprendi que os clientes não gostam de sentir a cebola, então comecei a passá-la; testei dezenas de acompanhamentos para ver quais eram os que tinham melhor aceitação e por aí fora…”. Porém, há uma coisa que não muda nunca, que é a escolha criteriosa de produtos de grande qualidade, preferencialmente da região.

Vallécula
Rui Duarte Silva

O tempo ajudou a apurar a mão e a confiança de Maria Fernanda. “A cozinha passou a ser natural para mim, já não me assusta. No início, sim, entrava em pânico”, confidencia. Um “início” que se deu longe, a milhares de quilómetros de Valhelhas, revela: “Vivi 20 anos em França onde, ainda era uma garota, ia cozinhar a casa das pessoas, aquilo a que hoje chamam de catering”, ri.

Restaurante Vallécula - Garfo de Prata em 2018
RUI VASCO

O regresso a Portugal deu-se por via do coração. Enamorou-se por Luís Castro, um filho de Valhelhas, com quem acabaria por casar, e os dois estabelecem-se na terra. Abrem primeiro um bar, onde, durante 10 anos, Maria Fernanda fazia petiscos, bolos e preparava sandes. Mas, “as pessoas pediam-me comida de tacho e no bar só havia quatro mesas pequenas, o que me fez decidir a abrir um restaurante”. Mas não podia ser um restaurante qualquer. Tinha que ser um espaço onde as pessoas se sentissem como se estivessem nas próprias casas. “Os restaurantes tinham quase todos toalhas de papel e eu quis que o meu tivesse toalhas e guardanapos de pano. Queria um ambiente calmo que fosse como o das nossas casas. Que as pessoas entrassem, comessem bem e se sentissem felizes”. E assim tem sido ao longo dos anos.

Vallécula

Além da música clássica, o segredo para o sucesso é claro e simples para Maria Fernanda: “Num restaurante, cozinhar não pode nunca ser meramente reproduzir uma receita. É preciso muita paciência, muito trabalho, muito amor. E uma persistência constante”. E deixa o aviso: “Quem não pensa assim nunca irá ter um bom restaurante”.

Sem site, perfil no Facebook ou conta no Instagram, o restaurante Vallécula (Praça Dr. José de Castro, 1, Valhelhas. Tel. 275487123), tem 32 lugares e, na ementa, sugestões como “Borrego na carqueja” (€15,50), “Galo estufado à moda antiga” (€15,50), “Bacalhau Valleculiano” (€16,80) e “Truta salmonada” (€18,50). Para entrada experimente a “Morcela da Guarda” (€8,80) ou a “Chouriça de javali” (€8,40) e, como sobremesa, “Papas de carolo” (€4), “Pudim de requeijão de ovelha” (€4,50) ou “Queijada de noz” (€4).

O restaurante foi distinguido, em março, com o prémio “Mérito 20 Anos”, no Guia Boa Cama Boa Mesa 2023. Na história do Vallécula consta ainda a atribuição de um Garfo de Ouro, nos anos de 2015, 2016 e 2017, e um Garfo de Prata, em 2018 e 2019. No ano de 2020 foi distinguido como restaurante “Mesa com Mérito”.

Vallécula
Rui Duarte Silva

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