Boa Cama Boa Mesa

Desta poda sabem eles! Receitas do antigamente enchem novo restaurante em Montemor-o-Novo

Migas gatas no restaurante Poda
Migas gatas no restaurante Poda

Produtos da terra, vinhos escolhidos a dedo e uma cozinha comprometida com as tradições e as estações. Em Montemor-o-Novo, o novo restaurante Poda promete devolver identidade à cozinha local alentejana

Há algum tempo que Miguel Dominguinhos ambicionava ter um restaurante. Em janeiro deste ano, encontra o proprietário do antigo Bar Alentejano, que permanecia fechado há uma década. Volvidos seis meses, as portas do n.º 25 da Rua Sacadura Cabral abrem-se para o restaurante Poda. “É um restaurante tradicional português, com base alentejana, para que haja um equilíbrio na ementa, que vamos mudando, de modo a não cansar os clientes locais”, explica Miguel Dominguinhos. Escanção de formação e conhecedor dos receituários de várias regiões do país, graças às viagens feitas por Portugal, o proprietário do restaurante faz parte da direção dos Escanções de Portugal, onde concluiu vários cursos nesta área.

Poda foi o nome escolhido para o restaurante, que abriu portas em junho, ou não fosse esta a designação atribuída à fase em que são retiradas as folhas e os rebentos em excesso de uma videira. Tudo em prol de uma colheita sã e cheia de qualidade. Talvez venha daqui o motivo para a escolha de uma carta de vinhos constituída, sobretudo, por nomes de pequenos produtores e referências menos convencionais, seleção realizada pelo proprietário.

Ensopado de caça no restaurante Poda

Qualidade é, efetivamente, a palavra que define a cozinha do restaurante Poda. Aqui, quem dá a cara é João Narigueta, amigo de longa data de Miguel Dominguinhos e rosto do restaurante Híbrido, em Évora. “Passamos para aqui um bocadinho do conceito do Híbrido, mas de uma forma tradicional”, explica o chef natural de Montemor-o-Novo. Os ingredientes são provenientes de pequenos produtores locais, com os quais se encontram ao sábado, de manhã, no Mercado de Montemor. A louça é do ateliê montemorense Célia Macedo Ceramics.

“É uma carta não fixa, já que respeita os pratos de época, tal como a tradição”, esclarece João Narigueta. Como exemplo, o chef fala da típica sopa de tomate. “Só se faz no verão e se há mais tomate, fazemos conservas, para podermos utilizar enquanto houver ou se houver necessidade disso”. Além disso, “fazia falta aqui, em Montemor-o-Novo, um restaurante mais tradicional”, continua Miguel Dominguinhos. “A identidade perdeu-se”, reforça o proprietário, daí ambos quererem implementá-la no Poda.

Concisa, a ementa começa com “Pão e conduto”. O primeiro é alentejano e é disposto na mesa no talego, a típica bolsa de pano da região. A manteiga é de porco, mais conhecida por manteiga corada, extraída da gordura produzida na feitura da “Carne de porco com migas” (€14,50), um dos pratos do Poda. Azeitonas e azeite complementam a oferta. Mas pode pedir apenas a “Cesta de pão” e as “Azeitonas”, a “Salada da época” (€3), o “Queijo de ovelha” (€3,50) e os “Enchidos”, (€6), para entreter as papilas gustativas. Acresce o “Presunto” (€14) para os aficionados de sabores de cura.

Prossiga com as recomendadas “Migas gatas” (€ 7,50). “Antigamente, pelo Alentejo, as pessoas aproveitavam a água em que era cozido o peixe, maioritariamente bacalhau, para demolhar o pão e temperavam com poejo. Hoje, é com coentros”, conta João Narigueta, conhecedor das práticas culinárias de outrora, protagonizadas pela avó. “Aqui, as migas gatas são um bocadinho mais húmidas e o bacalhau é braseado”. O tempero e o consequente sabor são exímios.

Alimado de poejo, no restaurante Poda

“Coelho à São Cristóvão” (€ 7,50) é outra das entradas a não perder e a partilhar. Entre no alinhamento da ementa, com o “Alimado de poejo” (€6,50) e a “Tomatada alentejana” (€12), a experimentar, bem como a rica e saborosa “Sargalheta de peixe”. Esta consiste num caldo feito a partir de tomate, com peixe e ovo mexido. Tudo está feito na dose certa e o equilíbrio perfeito entre os ingredientes. Dos deuses estão as “Iscas de vaca com Cebola Roxa de Montemor e batata cozida” (€9,50) e o “Bitoque de porco ou vaca” (€10) é de experimentar.

Em alternativa, peça a “Sopa do dia” e o “Petisco do dia” (ambos com preço sob consulta), ou o “Menu de degustação” (€25) composto por pratos a combinar ou escolhidos pelo chef.

Para rematar, há “Enxovalhada” (€4), bolo tradicional local, “Mousse de chocolate” (€3,50), feita com chocolate da Melgão, em Montemor-o-Novo, e doces conventuais (€5, cada), como “Encharcada”, “Sericaia” ou “Morgado”.

O restaurante Poda (Rua Sacadura Cabral, 25, Montemor-o-Novo. Tel. 266896317) é um projeto gastronómico despretensioso, em que o serviço “tem de ser muito mais do que bom”, afirma Miguel Dominguinhos, e a comida é exemplar. Vale a pena saborear cada momento, de terça-feira a sábado, das 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 22h00, e ao domingo só ao almoço, e conhecer a mostra de arte exposta pela sala, com artistas desta cidade do distrito de Évora. Impera a reserva.

Restaurante Poda

Acompanhe o Boa Cama Boa Mesa no Facebook, no Instagram e no Twitter!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate