Neste novo design hotel de Lisboa conta-se a viagem imaginária do Gajo da Bica
Hotel Independente-Bica
Hayley Kelsing
Com uma história marcada por partidas e chegadas, a rua de São Paulo, um dos epicentros turísticos da cidade de Lisboa, acolhe o novo e original hotel “Independente-Bica”. No restaurante “Bica-San”, ou “Gajo da Bica”, há influências do Japão para descobrir e provar
Não são raros os casos em que a função de um edifício se mantém ao longo dos séculos. Uma pensão do século XIX renasce como design hotel, com 41 quartos. A história e a localização atraíram a atenção dos irmãos Eça Leal, responsáveis pelo Grupo Independente, que acrescentam este hotel, de design minimalista, ao seu portefólio.
Hotel Independente-Bica
Hayley Kelsing
Nos quartos, alguns com beliches, o mobiliário é feito à medida, de madeira sustentável e altamente renovável. Chama a atenção o minibar Smeg. Está recheado de surpresas de marcas portuguesas como pastilhas Gorila, chocolates Regina, Kombucha Gutsy Captain e vinho Mateus Rosé, mas também sugestões japonesas como os noodles de preparação instantânea para uma fome fora de horas.
Quarto do novo hotel
Hayley Kelsing
Com projeto de arquitetura da Boost Studios e desenho de interiores do Atelier Catarina Cabral, o Independente-Bica mantém a traça original no interior e a linda fachada, em que vemos inscrita a data de 1849, mas reflete uma inspiração nipónica e contemporânea. É um hotel sofisticado, mas descontraído, com alma de hostel, e que acolhe os viajantes no mesmo espaço do restaurante “Bica-San”, por outras palavras “Gajo da Bica”. A ideia é fazer uma viagem imaginária até ao Japão neste espaço que junta um restaurante de fusão, um izakaya (bar japonês), cafetaria, bar de vinhos e cocktails, promovendo o convívio entre aqueles que passam e os que ficam.
Entrada do novo hotel
Hayley Kelsing
“Todo o conceito conta a história da viagem imaginária de um ‘gajo da Bica’ (Bica-San) que viaja para o Japão e, ao conviver com os japoneses, adapta lentamente os seus petiscos favoritos, substituindo ingredientes portugueses por elementos como dashi, soja, arroz e alimentos perfumados, e regressa a olhar Portugal através de uma ‘lente’ japonesa”, explana o grupo hoteleiro.
Bica-San
Hayley Kelsing
O chef Bruno Antunes lidera os destinos da cozinha, com uma carreira fortemente influenciada pelas técnicas japonesas de Nuno Mendes, com quem trabalhou vários anos em Inglaterra, mas também por Bruno Rocha, do Bairro Alto Hotel. Conta ainda com uma passagem pelo restaurante Cavalariça” (Lisboa). É um criador e que apresenta uma espécie de “pesticada” japonesa realmente inovadora. O “Tofu braseado e recheado de couve-flor à Brás” (€12) junta a delicadeza e intensidade japonesas, a “Tempura de feijão verde, Bulhão Pato e funcho” (€10) é um hino à herança portuguesa no Japão, reforçado pelo “Bulhão Pato”, assim como a “Patanisca – Miaki, bacalhau curado e ovo a cavalo” (€) e o “Arroz Gohan com grelos de nabo e berbigão” (€22). “Estes pratos e esta mistura de sabores não se encontram em mais lado nenhum e tornam este lugar único”, garante Bruno Antunes.
A carta de vinhos, pensada por Sam, de origem egípcia, não sendo extensa, abarca as regiões portuguesas e uma ou outra proposta francesa, italiana e espanhola, mas é André Arrabaça que está na sala e aconselha uma eventual harmonização.
Bica San
Hayley Kelsing
Existem dois tipos de pequeno-almoço (€20), japonês e continental, ambos disponíveis até às 11h00. O desafio do país do sol nascente pode, à partida, parecer difícil para um ocidental e, no entanto, é surpreendentemente leve e amigo do estômago, além de fornecer energia para o resto do dia, sobretudo a “Sopa de ovos batidos com caldo de peixe fumado com gengibre fresco”. Vale mesmo a pena arriscar. “Os japoneses comem basicamente o que sobrou do jantar ao pequeno-almoço, mas o nosso pequeno-almoço japonês não é muito pesado, é bastante saudável, até é mais saudável muitas vezes do que o continental, onde há bacon, compotas doces e ovos, e já temos muitas pessoas já a optar pelo japonês”, conta Bruno Antunes.
Pequeno-almoço oriental
Hayley Kelsing
E, desde o início de setembro, todas as quintas a partir das 19h30, o Bica-San serve de palco para os músicos de rua que tocam nas redondezas nas Bica Sound Sessions. São um ótimo pretexto para provar um dos Cocktails Bica, sempre com chás à mistura, como o “Bica-San” (€12), com gin, água de rosas, chá choco thai, xarope de framboesa, ou o “Meron” (€12), com Midori, sumo de lima, chá verde e ananás, pepino e hortelã e o “Omoshiroi” (€10), feito com gin, licor de framboesa, chá de Sencha Sakura e Supasawa.
Ousado e criativo, mantendo a riqueza da história, o novo Independente-Bica (Rua de São Paulo, 91, Lisboa. Tel. 912302197) oferece uma experiência "fora da caixa" numa atmosfera cool que junta Portugal e Japão, ideal tanto para lisboetas como para viajantes.
Chef Bruno Antunes
Hayley Kelsing
A ideia dos irmãos Eça Leal é sempre proporcionar o conforto e serviços de um hotel premium a um preço mais acessível (a partir de €150) e alimentar a ligação à cidade de todos os que passam pelo alojamento. Há 10 anos, o Grupo Independente começou como “The Independente Collective”, com os quatro irmãos empreendedores (Duarte, Martim e Bernardo D’Eça Leal e Afonso Queiroz), que criaram o Independente Lisboa, um hostel de estilo Art Déco situado mesmo em frente ao miradouro de São Pedro de Alcântara, com 22 quartos, e os restaurantes “Decadente” e “Insólito”. Em 2018, inauguraram The House of Sandeman, o primeiro hostel de marca no mundo, nascido de uma colaboração com a marca de vinho do Porto Sandeman. 2023 é o ano do Independente-Bica, a quarta unidade hoteleira do Grupo, e do Independente-Comporta, inaugurado no verão.
Merece ainda referência a componente de responsabilidade social do Independente-Bica. Está decorado com excelentes obras de arte de um projeto dedicado à capacitação e reinserção psicossocial e profissional de pessoas com experiência de doença mental através da arte, o “Manicómio”. Esta colaboração deverá, de futuro, assumir outras formas, nomeadamente poder dar apoio psicológico aos funcionários que acharem útil ou necessário através da arte.