E afinal, o que se come no snack bar que ajudou a alimentar os bombeiros durante o fogo de Odemira?
Snack Bar O Sobreirinho, em São Teotónio
CM Odemira
Chama-se O Sobreirinho e localiza-se em São Teotónio, vila do concelho de Odemira que esteve no centro do grande fogo. “Em 39 anos nunca tinha feito tanta comida”, reconhece Vânia Mateus, que perdeu a conta às refeições que preparou. Esta quinta-feira, dia de regresso a alguma normalidade, a amenta sugere “Arroz de berbigão com peixe frito” e “Frango à chefe”
Reportagens nas várias televisões e nos jornais ao longo de cinco dias: nunca o pequeno restaurante e snack bar O Sobreirinho, na pacata vila de São Teotónio, tinha sido objeto de tanta atenção, apesar das poucas, mas positivas referências que é possível encontrar online. O grande fogo de Odemira, que começou no passado sábado e só esta quarta-feira foi dado como dominado, acabou por transportar Vânia Mateus e o snack bar para o topo das atenções, ao ter estado todos estes dias a trabalhar (quase) em exclusivo para alimentar os bombeiros.
Na verdade, o snack bar nem aparece nas listagens do gigante Tripadvisor. Nos 78 comentários identificados no motor de busca da Google a nota apresentada é de 4,3 (máximo de 5) e existem elogios ao ambiente e à qualidade da comida caseira, bem como ao preço do prato do dia: €10, com direito a pão, azeitonas, prato de carne ou peixe, bebida, sobremesa e café. Esta quinta-feira (10 de agosto), dia de regresso a alguma normalidade, foram preparados, como pratos do dia, “Arroz de berbigão com peixe frito” e “Frango à chefe”. Nas diárias da casa, ao longo dos últimos tempos, é também possível encontrar outras sugestões tradicionais, apoiadas no receituário regional e nos produtos locais, como “Polvo frito com batata-doce”, “Carne de porco à alentejana”, “Bochechas de porco estufadas”, “Entrecosto no forno com batata assada” e até “Raia à Bulhão Pato”. Na ementa há ainda bitoques, francesinhas e outros petiscos, entre queijo, enchidos, caracóis, saladas de orelha e de polvo, moreia e algum marisco, como perceves e camarões.
Snack Bar O Sobreirinho
DR
“Em 39 anos nunca tinha feito tanta comida”
Vânia Mateus, do snack-bar O Sobreirinho, disse à agência Lusa que, quando o fogo começou, no sábado, foi contactada pela coordenadora logística dos Bombeiros de Odemira e começou a trabalhar na preparação de refeições para os operacionais do dispositivo de combate ao incêndio, que progrediu para os concelhos de Monchique e Aljezur, no distrito de Faro.
"Comecei a trabalhar com ela desde o início do incêndio e tivemos de fazer apelos de ajuda na segunda-feira, porque deixei de ter 'plafond' meu para dar resposta às necessidades", afirmou Vânia Mateus, referindo-se aos pedidos de colaboração feitos pelas redes sociais e que geraram uma onda de solidariedade superior à que se podia esperar. Após os pedidos de doação de alimentos, "vieram pessoas do concelho, do Algarve, de Lisboa, entregar alimentos", foram abertos 'plafonds' no supermercado para comprar géneros alimentares para os bombeiros" e contou com o apoio "de muitas pessoas da freguesia e muita gente do Sobreirinho para fazer a comida".
"Foram horas e horas a descascar cebolas, cenouras, a fazer sandes. Em 39 anos de vida, acho que nunca tinha feito tanta comida. Hoje sei que foram já perto de 600 refeições e são sempre 300, 500. E há mais gente aqui no concelho a fazer o mesmo", contou, agradecendo a "ajuda que tem vindo de todo o lado, menos da Câmara, da Junta de Freguesia ou da Proteção Civil".
Vânia Mateus espera, com o fogo já dominado, ir regressando à normalidade para poder retomar o trabalho habitual, o que aconteceu esta quinta-feira, dia 10 de agosto.
Snack Bar Sobreirinho
DR
"Já reforçámos a publicação a dizer que não precisamos de mais, mas as pessoas continuam a trazer, dizendo que é para os bombeiros", referiu, frisando que teve de "montar uma cozinha no quintal para poder cozinhar tanta comida".
Entre os voluntários que dão apoio à confeção de refeições está Sónia Saraiva, que criticou a falta de apoio e as condições em que têm estado a trabalhar e que podiam ser melhores noutro espaço, como a escola, "que tem agora as crianças de férias".
"Então não era melhor estarmos num espaço em que pudéssemos ter uma linha de montagem? A escola está agora fechada e a cozinheira que lá trabalha tem estado aqui a ajudar. Ali faríamos tudo de seguida", exemplificou.
Sónia Saraiva enalteceu a colaboração das pessoas e a resposta que deram aos apelos feitos na redes socais, destacando que, "num momento em que a carne acabou, fizemos um apelo e uma hora depois houve um rapaz que vinha da Jornada Mundial da Juventude e entrou aqui com 50 quilogramas de carne".
"Fez um apelo e numa hora recebeu mil euros", acrescentou, referindo-se ao montante que esse jovem conseguiu angariar em tão pouco tempo.
Tanto Vânia Mateus como Sónia Saraiva sabem que as marcas no território ainda vão ficar visíveis por um longo tempo, dada a voracidade do incêndio que lavrou ao longo de quatro dias e deixou amplas zonas de Odemira, Aljezur e Monchique afetadas.
Ao longo da Estrada Nacional 120, entre São Teotónio e Aljezur, os efeitos do fogo são claros, com áreas florestais ardidas e ainda fumegantes, em particular em redor de Odeceixe, onde tudo em volta ardeu e só as casas não foram afetadas.
O turismo rural TEIMA, em Odemira, destruído pelo fogo