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Ilhas e ilhéus portugueses para se refugiar do mundo

Ilhas e ilhéus portugueses para se refugiar do mundo
Lchacal Photography

Em rios, albufeiras ou no mar, conheça oito ilhas e ilhéus que oferecem a tranquilidade e a pacatez da natureza, o encanto da água e, muitos deles, um pequeno paraíso só para si.

Ilha do Ermal
Ficou conhecida pelo festival que fazia ecoar pela barragem os sons do rock. Agora que a música se calou, na ilha do Ermal é a natureza que fala mais alto e, no verão, também os sons da diversão a partir do teleski da praia fluvial do Ermal, que aproveita a amplitude das águas da barragem e o enquadramento verde, típico minhoto. Única no país, a estrutura instalada em Rossas permite a atração de esquiadores ao longo das águas da albufeira. Durante todo o ano pode praticar ski aquático, wakeboard, mono[1]ski e kneeboard num perímetro com cerca de 800 metros. Encontra ainda outros divertimentos estivais como gaivotas, canoagem e kayak, paddle e, o favorito dos pequenos, aqua splash, um insuflável dentro de água. Para caminhar, escolha o trilho “Os Carvalhos do Ermal”. Circular, começa e acaba na praia do Carvalho da albufeira do Ermal, numa extensão de 10 quilómetros, no sopé da serra do Merouço, pontuados por capelas e alminhas, caminhos rurais, casas com história, vestígios da antiga calçada medieval, cursos de água e vários fontanários para se refrescar.

Ilha do Castelo
Ergue-se a 29 metros de altura, tem apenas 140 metros quadrados, mas é um cenário de sonho em pleno Douro – e a única ilha que existe no rio – no lugar onde se encontra com o Paiva. O nome ilha dos Amores, pela qual é mais conhecida, deixa adivinhar que foi palco de uma história de amor. Com desfecho trágico, a pequena ilhota continua a fazer perdurar a lenda. Neste local, costumam passear casais enamorados, fazem-se pedidos de casamento, despedidas de solteiro e fotografias de casamentos. Apesar das dimensões reduzidas, aqui terá existido um castelo que deu nome à ilha e às imediações. Atualmente, é um oásis de plantas rasteiras e árvores altas e imponentes, como carvalhos, oliveiras, freixos, juncos e tamargueiras. Classificada como Imóvel de Interesse Público em 1977, o acesso à ilha do Castelo ou dos Amores, é feito de canoa ou a bordo das embarcações de empresas locais de passeios fluviais, que operam a partir da praia do Castelo. Grupos de jovens procuram na pequena ilhota se banharem nas límpidas águas e acampar.

Caminhar sobre a paisagem rural
A poucos metros encontra-se a praia fluvial do Castelo, ponto de partida para as embarcações que seguem para a ilha. Nesta praia, tanto encontra areal como um extenso relvado e, ainda, uma piscina, alternativa às águas do Douro. Tem parque de merendas com churrasco e dispõe e caiaques e canoas que pode alugar para passear ao largo. Se preferir atividades em terra, o Percurso Pedestre Ilha dos Amores, com início e fim no cais do Castelo, junto à ilha, oferece um percurso por caminhos rurais envoltos pela natureza e que dão a conhecer a histórica povoação do Castelo, onde é possível apreciar diversas casas do século XIX que resistem ao passar do tempo. Na freguesia de Fornos, encante-se com a capela de Santo António, o velho cruzeiro, a igreja de São Pelágio e as paisagens rurais que se estendem por pouco mais de sete quilómetros de um percurso de dificuldade média. Quanto à lenda… consta que um jovem e pobre lavrador, enlouquecido por ver a mão da sua amada, cujo amor era correspondido, ser dada a outro homem, matou o rival, atirando-o para as águas que banham a ilha. Ambos planearam refugiar-se neste pedaço de terra, mas quando atravessavam o rio formou-se uma forte tempestade e o rio “engoliu” a barca onde seguiam os apaixonados. Segundo a lenda, foi o espírito do aristocrata assassinado que assim se vingou do casal de namorados.

Ilha dos Padrões
O enchimento da albufeira da barragem do Cabril fez nascer esta ilha, na verdade o cume de um monte que se manteve acima da cota de água. Está na confluência de dois rios: Unhais e Zêzere, na freguesia de Portela do Fojo, concelho de Pampilhosa da Serra. Ganhou o nome da aldeia mais próxima e a partir da qual se desligou da terra existente. Com grande densidade de pinheiros é possível caminhar pela orla de areia, mas também fazer vários percursos a pé pelo interior, até ao cume. Local de tranquilidade única é também uma zona que convida a mergulhos refrescantes nos meses quentes. Como desafio basta ter um caiaque ou uma prancha de stand up paddle para um agradável passeio em redor da ilha e seguir à descoberta da beleza das margens. Junto à aldeia de Padrões pode descansar na Casa de Santo Antão e aproveitar o baloiço panorâmico ali existente, com a particularidade de poder assistir ao nascer do sol virado para o Zêzere ou ao pôr do sol do lado do rio Unhais. Do lado de Pedrógão Grande pode fazer o Caminho da Albufeira, aproveitar o parque de merendas com vista para a ilha ou usufruir da comunhão com a natureza nos yurts e tendas da DragonFly – Vale da Libélula. Nas proximidades encontra as comodidades da praia fluvial de Santa Luzia.

Foto: Nuno Franco - Roteiro do Alqueva

Ilha do Pessegueiro
O nome de árvore de fruto dado a esta pequena ilha na costa alentejana terá nascido de um equívoco de tradução, a partir das palavras latinas “piscatorius” ou “piscarium”, associadas aos vestígios dos tanques de salga da época romana. Outra versão refere a existência, em frente, de uma antiga fortificação chamada Pessegueiro. A bordo do “Novo Horizonte”, o mestre Joaquim Matias parte do porto de pesca de Porto Covo para uma visita guiada à ilha e ao forte de Santo Alberto, rodeados por gaivotas. Marinheiro bem- -disposto, conta estórias e a história da tempestade Hércules que, em 2014, destruiu os vestígios arqueológicos. Mesmo em frente à ilha mergulhe na praia homónima e contemple outro forte, o de Nossa Senhora da Queimada. Com a Ecoalga explore fundos marinhos ímpares e descubra peças de artilharia e âncoras antigas. Deslize de canoa, pranchas de stand up paddle e de kitesurf, com a escola Casa de Campo e a Paddle South Portugal. O Trilho dos Pescadores, um dos melhores do mundo, passa pelo largo Marquês de Pombal, em Porto Covo, porto de pesca, ribeira, encosta da casa da Tiana Augusta e segue ao longo da falésia até à ilha. Os cavalos da Herdade do Pessegueiro conhecem de cor a estrada, em passeio pela orla costeira.


Ilha Dourada
Das mais de quatro centenas de ilhas da albufeira do Alqueva, a selvagem ilha Dourada é a única que oferece uma praia natural com areia. Deve o nome à cor de ouro do areal. Está rodeada de um espelho de água transparente e quente, com uma temperatura de cerca de 30 graus. A Alqueva Cruzeiros leva-o de jangada até este paraíso, monta uma pérgula e põe a mesa para petiscar à moda alentejana. Mergulhe e experimente o paddle com prancha insuflável, a boia de tração e o esqui aquático. O passeio tem a duração de cerca de duas horas, com partida do Centro Náutico de Monsaraz. A embarcação vintage holandesa, o veleiro “Sem Fim”, datada de 1913, é uma boa opção para um jantar romântico com paragem na ilha para banhos. Após pernoitar num barco-casa do Alqueva, com velocidade autolimitada e sem necessidade de carta de marinheiro, siga pelas zonas navegáveis do grande lago até à ilha Dourada. Equipe o barco com um churrasco a gás, alugável à parte, para uma grelhada entre amigos. Os mais aguerridos podem remar de canoa e caiaque ou fazer-se transportar de prancha de paddle, calmamente, em silêncio, levando o próprio piquenique. Outra opção divertida são as gaivotas com escorrega. Não esqueça o chapéu nem o protetor solar.

Ilhéu de Vila Franca do Campo
É, provavelmente, o mais fotogénico ilhéu do país, mais ainda quando visto de cima, revelando uma “piscina natural”, impecavelmente redonda, abraçada pelas rochas vulcânicas. Terá sido precisamente um vulcão a conferir-lhe a forma incomum, resultado de uma erupção submarina que o Atlântico tem ajudado a esculpir, nos últimos quatro mil anos. O círculo perfeito – conhecido como “Anel da Princesa” – com 150 metros de diâmetro, encerra um local de sonho para ir a banhos, mas também para a prática de snorkeling. A pequena passagem para o mar está virada para a costa ajudando a conservar a temperatura da água, que, alheia a marés, é consideravelmente mais quente. Experimente-a na pequena praia no interior do ilhéu. Classificado como Reserva Natural em 1983, é uma área protegida para a gestão de habitats e espécies desde 2008. Os únicos habitantes permanentes são aves marinhas como os cagarros e garajaus e os caranguejos-fidalgo. Pode avistá-lo a partir de Vila Franca do Campo todo o ano, mas as visitas só são possíveis entre junho e outubro, época em que diariamente os barcos partem do cais de Tagarete, de hora em hora, para uma viagem de 10 minutos. Por ser local de conservação de espécies, a entrada é limitada a 400 pessoas por dia, pelo que se recomenda o planeamento e a compra antecipada de bilhete junto da marina de Vila Franca do Campo. Se for passar o dia, abasteça-se, já que as infraestruturas são escassas. Com a Seabooking, pode fazer uma visita com pesca incluída, num passeio privado de duas horas para até oito pessoas. Em alternativa, vá de caiaque com a Fun Activities: explorar grutas escondidas, nadar no Atlântico e fazer snorkeling são atividades previstas a que se acrescenta andar de caiaque na baía do ilhéu.


Mergulhos acrobáticos
Totalmente desaconselhados a amadores, os saltos em queda livre de uma altura de 27 metros, combinados com acrobacias, impressionam a cada etapa do campeonato mundial de mergulho em penhascos – o Red Bull Cliff Diving. Aqui realizado desde 2009 – em suspenso nos últimos dois anos devido à pandemia – , trouxe imagens deslumbrantes e fama planetária ao ilhéu. Depois de um dia de intensa atividade neste local paradisíaco, desembarque na vila em direção à fábrica de Queijadas da Vila do Morgado, onde pode conhecer o processo de fabrico e degustar este doce local elaborado a partir de uma receita com mais de 500 anos.

Foto: Mantamaria Dive Center

Ilhéus das Formigas
São tão singelos que mais parecem ter sido “esquecidos” por alguém no oceano Atlântico, 37 quilómetros a nordeste da ilha de Santa Maria e a cerca de 60 de São Miguel. Alcançar estes oito ilhéus de basalto – o mais alto é o Formigão, apenas 11 metros acima do nível do mar – é especial: “Dá adrenalina estar no meio do oceano, sem ver nada, e encontrar as Formigas”, descreve Jorge Botelho, do Mantamaria Dive Center, que costuma partir de barco desde Vila do Porto, em Santa Maria, rumo a estes ilhéus. Quando o mar permite, desembarca junto ao farol e há ainda margem para o snorkeling. À superfície aparecem aves, caranguejos e lapas, mas a Reserva Natural dos Ilhéus das Formigas abrange uma área marinha circundante bastante rica. Nas imediações, o Recife Dollabarat apresenta declives e fendas, maciços rochosos cobertos de algas e abundante vida marinha. Além dos cardumes, podem avistar-se cetáceos, tartarugas, meros, moreias e, por vezes, jamantas, mantas e tubarões. Um paraíso para o mergulho, a requerer experiência, e que pode conhecer nas saídas de mergulho do Mantamaria Dive Center, além dos destroços do naufrágio Olympia. Se preferir, tem os passeios em redor da ilha de Santa Maria, em busca de praias, piscinas naturais e fósseis.

Ilhéu das Cabras
Dançando no fundo do mar em movimentos compassados, um cardume de raias faz companhia à viagem. A elegância da coreografia pode ser observada em detalhe a partir do barco com fundo de vidro da Water4fun. Partindo da Marina de Angra do Heroísmo, a rota, que desenha um “8”, permite ainda avistar toda a estrutura vulcânica dos ilhéus das Cabras, os maiores dos Açores, com 29 hectares. A erosão provocada pelo mar e a movimentação tectónica transformaram o cone vulcânico em dois ilhéus, visíveis na costa da Feteira. Área protegida, são eleitos por diversas espécies de aves que aqui habitam e reproduzem, como cagarros, garajaus, pombos-da-rocha e maçaricos-galegos. Na viagem, que percorre cerca de sete milhas náuticas entre ida e volta, há ainda oportunidade para um mergulho, sempre que o ameno clima açoriano permita. Já a Ocean Emotion convida a descobrir as várias grutas integradas na Área Protegida dos ilhéus das Cabras, como a das Raias ou a da Catedral, acessíveis apenas de barco e casa de importantes histórias e lendas. Há várias modalidades de passeio de barco pela costa que pode incluir observação de baleias e golfinhos e natação com golfinhos, visita aos ilhéus, snorkeling e terminar com o pôr do sol a bordo.

Este texto foi adaptado do Guia da Água 25 Ilhas e Ilhéus Imperdíveis, com produção Boa Cama Boa Mesa, oferecido com o Expresso na edição de 22 de abril 2022.

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