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Conhecer a lenda do Beijo sem Fim em Sortelha, a aldeia dos lagartixos

Conhecer a lenda do Beijo sem Fim em Sortelha, a aldeia dos lagartixos

A Aldeia Histórica de Sortelha está ao lado da Malcata e deixa avistar a serra da Estrela, relativamente próxima. Os habitantes da aldeia são chamados “lagartixos”, pela forma como as habitações estão dispostas para absorver o máximo de luz solar.

Conhecer a lenda do Beijo sem Fim em Sortelha, a aldeia dos lagartixos

Dora Troncão

Jornalista

O pelourinho manuelino com a esfera armilar junto ao castelo de Sortelha pode ser o centro de toda a descoberta desta aldeia histórica do concelho do Sabugal. Arminda Esteves, artesã, filha da terra, nunca deixou a aldeia. Domina a arte do bracejo e fabrica desde cestos a queijeiras. Reconhece ser “difícil de apanhar a erva alta e verde no campo, porque magoa as mãos”, mas isso não impede de dar continuidade a esta arte. É proprietária da loja de artesanato, em frente ao pelourinho, e instalada no edifício da junta de freguesia, outrora Casa da Câmara, que chegou a servir de prisão, mas também de escola primária da aldeia medieval. O convite para entrar na loja, que dá acesso à Casa da Câmara, e comprar uma peça de Arminda Esteves ou outro objeto feito por artesãos da região, é permanente e justifica-se pela oferta variada.

Mais acima, neste roteiro, há um espaço ajardinado que desperta curiosidade. É o exótico Jardim do Anel, “com esculturas de João Reis, presidente da Associação Etnográfica da Sortelha, um impulsionador de eventos na aldeia”, revela a artesã. Como curiosidade, o brasão de armas de Sortelha é composto por um castelo e um anel. Diz-se ainda que o nome da aldeia deriva da palavra castelhana "sortija", que significa... anel.

O pelourinho fica frente ao castelo, mandado construir pelo rei D. Sancho I, no século XII, e classificado como Monumento Nacional desde 1910. Alguns degraus levam à entrada do pequeno forte. No interior encontra-se a cisterna, em frente à Porta da Traição, e a torre de menagem construída sobre um rochedo, o último reduto dos habitantes aquando das invasões. Sortelha instala-se a 760 metros de altitude e tem uma muralha impecavelmente conservada. Admire-se a paisagem, sem pressas… Uma das melhores vistas pode ser alcançada a partir da torre sineira localizada no topo de um penedo. Para lá chegar é preciso seguir um caminho de pedra e subir as escadas esculpidas na rocha. A porta falsa, que mais parece uma janela aberta na muralha para melhor ver o pôr do sol, deixa apreciar os vestígios arqueológicos da aldeia. Entre os mais famosos, a “cabeça da velha” uma formação granítica provocada pela erosão com o perfil de uma idosa, da qual se diz estar a olhar para a “cabeça do velho” na serra da Estrela, é a grande atração e motivo de romaria curiosa.

Sortelha

Sortelha, uma aldeia de “lagartixos”

Sortelha está ao lado da serra da Malcata e deixa avistar a serra da Estrela, relativamente próxima. Se a meteorologia permitir, os olhos conseguem alcançar várias cidades como Castelo Branco, Fundão, Guarda e até a cidade espanhola Ciudad Rodrigo. Os habitantes da aldeia são chamados “lagartixos”, pela forma como as habitações estão dispostas para absorver o máximo de luz solar. Os conjuntos arqueológicos são motivo de grande admiração por parte dos visitantes. Parecem desenhar animais ou pessoas e, com o passar dos anos, a imaginação tornou-os protagonistas de lendas, sobretudo ligadas a histórias de amor difíceis. A lenda do Beijo sem Fim é uma das mais conhecidas e populares, razão até para eventos culturais.

Conta-se que a filha do alcaide de Sortelha se apaixonou por um príncipe mouro, um amor condenado pela família, e, na noite em que fugiam pela encosta da muralha, foram surpreendidos pela mãe da donzela, que usou os respetivos poderes mágicos com a intenção de petrificar o mouro. A filha juntou-se a ele num beijo, acabando ambos transformados em pedra, unidos para sempre em Sortelha. São estas pedras do beijo eterno que podem ser observadas na encosta do castelo. Outra lenda, mais arrepiante – A Bela da Meia-noite -, conta a história de uma mulher abandonada grávida pelo marido, da qual se diz que ainda hoje espera por todos os homens infiéis para, na calada da noite, os afogar na fonte junto à igreja. A história surgiu do facto de existirem duas sepulturas antropomórficas, uma de adulto e outra de criança, precisamente junto à fonte. Por esta razão, a igreja matriz, também conhecida como Igreja de Nossa Senhora das Neves, datada do século XV e muito bem preservada, é um dos monumentos mais visitados desta aldeia histórica. Depois de espreitar pela Porta Falsa, ou porta Árabe, percorrer a muralha pelo interior e descobrir a torre sineira, frente ao bar campanário, bem como as casas mais famosas da aldeia como a do governador, dos falcões e árabe. Este percurso pode ser feito de burro, uma experiência para miúdos e graúdos, da JMAL, empresa especializada em passeios e atividades equestres (tel. 965403457).

Caldeirada de cabrito

Por entre passeios, a fama e o aconselhamento local indicam uma paragem no restaurante D. Sancho (tel. 271388267), junto à porta de Sortelha. As caldeiradas de cabrito ou de borrego integram as especialidades da casa e, para sobremesa, sugere-se leite-creme ou pudim de ovos. Entre calçadas medievais e canadas ancestrais. O caminho histórico de Sortelha, identificado como PR7, não é um percurso fácil, mas merece ser experimentado pela diversidade de interesses. Percorre calçadas medievais, canadas ancestrais e antigas minas de água. São cerca de 7,4 km, com início e fim na entrada do castelo da aldeia histórica de Sortelha. Tem como tema central o período medieval, mas não descura a oferta de múltiplas oportunidades para admirar as fabulosas vistas do vale em redor. O caminho histórico de Sortelha permite ainda a observação de aves como a perdiz, a pega-azul e o milhafre real, aves adaptadas a este ecossistema, além de outras espécies importantes como a raposa e a lebre.

Porta Falsa - Sortelha

Localizada no concelho do Sabugal, Sortelha dista escassos 19 km de Belmonte, conhecida como berço de Pedro Álvares Cabral, e cerca de 50 km de Monsanto, uma das mais conhecidas Aldeias Históricas de Portugal.

Este artigo foi adaptado do Guia das Aldeias Históricas de Portugal, oferecido com o Expresso, no dia 30 de maio de 2021

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