Brexit (1): Ser europeísta já não é o que era
O projeto europeu é o inverso do que foi: em vez de convergência económica, a divergência; em vez do modelo social europeu, o seu desmantelamento; em vez de solidariedade, ameaças, sanções e ingerência; em vez do reforço da democracia europeia, a arbitrariedade. E, no entanto, a qualificação de “europeísta”, “eurocético” e “antieuropeísta” continua a usar-se como se nada tivesse acontecido. Um conjunto de sondagens recentes mostra que, nos países do norte da Europa (Reino Unido ou Holanda), a direita é mais antieuropeísta do que a esquerda. No sul (Grécia ou Espanha), acontece exatamente o oposto. No eixo central do poder europeu (Alemanha ou França) há quase empate, com a direita a mostrar-se um pouco mais eurocética. Na Escandinávia (Suécia), semelhante, mas com vantagem para a esquerda. Sejam sinal de indisponibilidade para ajudar outros quando a crise também bateu à porta, reação aos efeitos sociais da crise e a essa indisponibilidade ou a defesa de um Estado Social com fortes tradições, os euroceticismos de sentidos opostos resultam do mesmo: os povos perceberam que a Europa que temos, com as regras que tem, apela ao egoísmo. Foram os próprios opositores ao Brexit a deixar claro que o Reino Unido tem direito, como outros, a regras apenas feitas para si, que negociaram para evitar a saída. Até eles perceberam que isto já não é uma casa comum. Os que querem sair são apenas mais coerentes